ABRIL
O quarto livro de Ovídeo diz
respeito a abril (aprilis, -is, s. m.) que, a princípio, era o segundo
mês do ano romano. Dedicado ao culto da deusa Vênus, deusa da vegetação e da
fertilidade.
Numa primeira explicação, o poeta das Metamorfoses refere-se à deusa
grega Afrodite, cujo nome se prende à espuma do mar, o que teria dado
origem à forma aprilis.
Eu (Ovídio) acredito que o mês de
Vénus está registado na língua grega. A deusa foi denominada a partir da espuma
do mar.
A segunda explicação utilizada pelo poeta é de que o nome de abril provém
do verbo latino aperio, que na sua primeira aceção significa “abrir”; os
antigos gramáticos criaram a forma aperelis < aperio, para explicar o
nome do mês Aprilis.
Segundo Ovídio, neste mês a primavera abre a natureza, fazendo-a
desabrochar.
Na verdade, porque a primavera
abre então todas as coisas, e a aspereza densa do inverno cai e a terra
desfigurada se abre. Aqueles lembram que o mês de abril é chamado a partir do
tempo desabrochado, o qual a venerável Vênus reivindica com a mão colocada em
cima.
Nesta zona do planeta, em Abril,
os raios solares deixam de ser tão escassos e rasantes. Caminham para a
verticalidade, aquecem os ainda húmidos solos, acordam a efervescência
germinativa e consuma-se a fuga das trevas num parto tresloucado. As sementes e
as árvores adormecidas sentem o tempo do seu ciclo e sabem que chegou a solene
hora de se rebentarem em louca construção de existência derramando-se em
florescências. Desabrocham em cores fulminantes cheias de néctar desafiando
todos os olhos ainda ofuscados pela penumbra.
No quintal a araucária tem uma altura que ultrapassa em muito a cumeada da
casa. Deve ter perto de cinquenta anos. Está hirta na sua triangular simetria
qual seta afiada apontada ao céu. Pelo seu porte e postura impõe-se como a
sénior do quintal. Por ela quase não se sente a passagem das estações do ano
não fora as sementes que liberta das pinhas nos finais de cada Verão. Tudo nela
é de uma geometria que arrepia ao ponto de não oferecer resistência ao vento
norte que por ela passa quase sem impacto.
Olha-se para ela e sabe-se que vê tudo de um ângulo quase maternal
porque ela não adormece e, de certeza que, na sua vigília, conhece todas as
“portas que Abril abriu”.