segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Banguecoque


BANGUECOQUE



No final da nossa viagem, depois do Laos e Camboja, ficámos ainda três dias na capital da Tailândia.

Banguecoque fascina e polariza ao mesmo tempo. Uma cidade de 8 milhões de pessoas, na região metropolitana quase 15 milhões: magnífica, gigantesca, moderna, exótica, tradicional. De tirar o fôlego.

Muito próximas uma da outra, a pobreza e a riqueza, a confusão e  o silêncio, a glória e a miséria. A cidade pareceu-me infinita e caótica. Um trânsito bárbaro com engarrafamentos permanentes e uma enorme poluição, pelo menos nessa altura.



Viajamos em Outubro, no final das monções. Ao fim da tarde levanta-se um vento quente e, logo a seguir, as chuvadas são torrenciais, inunda-se a cidade, temos de correr para nos abrigar no primeiro sítio.  Tal como no Camboja, penso que talvez devêssemos ter viajado um pouco mais tarde.



O nosso hotel ficava no bairro Sukhumvit. Um hotel cheio de turistas árabes, numa rua cheia de mulheres cobertas de preto e de mulheres de pernas e seios à mostra, transsexuais, cabeleireiras e massagistas.

Apesar de central, perto do metro, (e situado numa rua bastante exótica, aos meus olhos ocidentais), penso que seria bom um sítio mais sossegado, “mais tailandês” (aqui comemos em restaurantes árabes e indianos... com boas e más surpresas...).



Gostei, em geral, dos bairros mais tradicionais ao longo do rio; da zona perto do templo Wat Po -  e do  enorme Buda deitado, maior e mais dourado não há-, uma zona histórica, com um belo jardim.  



Porque há jardins grandes e belos em Banguecoque (uma surpresa para mim), a par da diversidade de bairros, dos templos fascinantes, dos mercados coloridos.

Mercados onde se compram as últimas prendas da viagem (perto do mercado de Chatuchak há um jardim, onde aproveito para descansar com mais dois companheiros, enquanto que os outros se aventuram pelas suas ruelas).

E há o rio que atravessa a cidade e no qual fazemos um passeio de barco. Se tivesse tempo, fazia as carreiras fluviais normais...



As pessoas mostram-se amáveis, prestáveis, sorridentes.

Vestem-se todas de preto, morreu o rei, o luto é longo.

O retrato do rei está por todo o lado, vídeos de momentos da sua vida cortam os edifícios, em vários canais de TV de nada mais se fala.

E as homenagens e celebrações faz com que comamos (uma óptima sopa e um gelado) e bebamos de graça perto de Wat Po. Se não fosse o calor...

Como nos mexemos, como circulámos ?

Existe um metro, uma rede pequena, mas que funciona muito bem, sempre cheíssimo, com a entrada e a saída nas carruagens feita com grande organização e civismo.  Muito recomendável.

Depois há os táxis e os tuk tuks.  Também aqui se tem de negociar e combinar os preços antes do passeio, pois o preço pedido é sempre demasiado elevado. Verificamos que os taxistas não gostam de  usar o taxímetro. E nem os táxis, nem os tuk tuks parecem gostar de sair dos  seus bairros. Nas viagens mais longas constatámos que por vezes se perdiam; a cidade é extensa...  A maioria dos condutores fala mal Inglês, e, por vezes, tem dificuldade em ler as indicações escritas por pessoas que amavelmente nos tinham traduzido para tailandês o pedido.  

A viagem para o Museu de Arte Contemporânea foi antológica: duas horas às voltas! E, se o edifício nos pareceu notável, o acervo não correspondeu ao nosso conceito de arte contemporânea, sentimo-nos desapontados.

Não andámos de autocarro, demasiado complicado para quem tem pouco tempo na cidade.



Como o aeroporto se situa a cerca de 30 km da cidade, tivemos de dar uma hora para o caminho, por causa do incrível trânsito... que prevíamos.  Tinha sido fácil encontrar um meio de transporte para a viagem do aeroporto para a cidade: pedimos um táxi no posto existente no aeroporto - prático e eficiente.



Três dias em Banguecoque: sou um turista, não há dúvida, tudo é impressão, tudo é próximo e distante...

M.



















sábado, 19 de novembro de 2016

Camboja, Siem Reap, aldeia flutuante


Aldeia flutuante de Chong Knas



Ainda o Camboja, Siem Reap



A azáfama e o engenho das diversas naturezas espelham-se aqui entre o céu e as águas no caminho até ao lago. Os humanos engenhos mostram como pensam, refletem e entendem a vida e a materializam com os recursos que da natureza usam. Testemunhos em materiais efémeros que não resistirão ao tempo. Assoma-se então a banal constatação de que, este mundo é mesmo feito de muitos e diversos universos que, a cada um limita, desvenda e molda o que vê e sente.



Até chegar ao barco percorre-se uma estrada de terra batida ladeada de casas sobre estacas. O acesso à aldeia flutuante de Chong Knas é feito de barco através do canal do rio Siem Reap que desagua no grande lago Tonle Sape. A aldeia situa-se na zona onde o rio se aproxima do lago. 

A maioria dos habitantes vive da pesca e do cultivo do arroz. Veem-se antenas e televisões, escola, uma igreja crista, restaurante e mercado. Embora com ar simples, muitas habitações apresentavam-se cuidadas e com pormenores airosos. 

Sente-se aqui a grande dádiva da proteção desta húmida e quente natureza, pois a humana dela retira abrigo e alimento, coisas mínimas para uns, coisas soberbas para outros que, noutras inférteis, apenas têm o ar, às vezes com cheiro a ruínas e combustão, para respirar.

Daqui, deste céu aberto que se espelha nas águas vivas, revejo as mulheres que, na cidade muito perto do hotel, estendem a mão pedindo com crianças muito pequenas deitadas sobre trapos na imundície dos passeios. 

Para os mais frágeis, as cidades são uma selva ainda mais agreste do que a rudeza dos campos. 
















quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Camboja


Camboja, numa caixinha

Camboja, vindo do vizinho e tão diferente Laos.

Primeiras impressões
Do avião: paisagem em quadrícula, com o que parecem lagos traçados a régua, arvoredo disperso, as reconhecíveis palmeiras, arrozais ou zonas alagadas.

Sai-se do aeroporto e a avenida que nos conduz ao hotel, em Siam Reap, a Airport Road, é a de uma grande cidade: hotéis, restaurantes, supermercados, trânsito organizado. Os tuk tuks parecem ter outra consistência e conforto do que no país que deixáramos.

No hotel, um enxame de empregados rodeiam-nos com pequenas toalhas geladas servidas à pinça, bebidas de acolhimento, ofertas e pedidos a que ninguém sabe ainda dar resposta, tudo é demasiado recente, demasiado insistente.

Dinheiro
Primeira surpresa para o turista desprevenido: dizem-nos que devemos pagar tudo em dólares! Não os tendo, devemos levantá-los no MB, ou trocar os euros que levamos. Trocar dinheiro para a moeda nacional, o riel, é inflacionar e infernizar a vida.

Sorriso

Paul Theroux fala do sorriso esfíngico das cambojanos, à semelhança do das estátuas khmers, um sorriso que torna opaca a visibilidade da emoção sentida, da experiência vivida...

 Siam Reap

Passeamos de noite em Siam Reap em euforia, porque a cidade assim se oferece, em cores e néons, do suk às lojas sofisticadas.  Admiramos os edifícios de influência francesa, chinesa, art-déco, tradicionais...

Uma cidade para o turista: hotéis, restaurantes, casas de massagem, lojas e bancas de comida... uns atrás dos outros. E preços quase europeus para muitos produtos...

Os templos de Angkor
O que faz correr as pessoas para Siam Reap é tudo o que o viajante sabe ou intui.
Os templos de Angkor.
De cair de joelhos e agradecer a Naga que nos fez aqui chegar.
(Tentar abstrair das dezenas de pessoas a fazer selfies à frente de tudo o que se quer ver com calma...).

Phnom Penh
Cidade fervilhante e de grandes contrastes. A zona ribeirinha, cheia de cafés e restaurantes. O Mekong. Os mercados tradicionais e o Mercado Central com o seu edifício art Déco. As ruas cheias de motos e motos, e tuk tuks, e pessoas, de famílias a viverem nelas, e um contínuo no tempo e espaço de tendas e carrinhos de comida.Os cheiros. A zona das embaixadas de avenidas largas. As marcas dos tempos recentes no meio do quotidiano: a prisão de Tuol Sleng dos anos 70, um antigo liceu e museu do genocídio. A zona e os edifícios do palácio real. Os templos.

O corpo continua a ressentir-se da mistura de calor, humidade e dos gélidos ares condicionados, mas o espírito da cidade aguça-nos o apetite de ver e conhecer, a energia é outra.

Gostamos de visitar  (e de comprar algumas coisas em) os Artisans d’Angkor, projecto co-financiado pela UE de valorização e promoção dos artesãos e artes tradicionais.

Sabemos aí que o ordenado mensal de uma enfermeira é de 50 USD e o de um professor de 60 USD, e que tudo falta nas escola....

Comparamos os valores ditos com o preço inicialmente pedido no hotel pela lavagem de uma camisa: 4USD...

Gostamos também de nos sentar no FCC, no Foreign Correspondent Club, e de jantar num restaurante aconselhado por uma australiana que regressa periodicamente à cidade “for the fun”, onde comemos pela primeira vez um peixe inteiro cozido a vapor, fresquíssimo e saboroso. Os donos são uns dos poucos idosos com que contactámos! Falam Francês, é “o velho mundo”.
Pensamos no passado, esquecemos o presente....
O taxista que nos conduz no final ao aeroporto faz-nos recordá-lo: a impossibilidade de escolher quem governa, a construção de condomínios de luxo e a deslocação forçada de pessoas, os ordenados baixíssimos, a repressão...


Jovens... e velhos
Jovens, jovens... em todos o lado. Como no Laos. É impressionante. Raramente um idoso (a expectativa de vida só a partir de 2000 ultrapassou os 50 anos, e, depois, há a(s) guerra(s) recente).

Mas muitos velhos europeus com jovens apsarás...

Algumas notas
1 Aconselha-se a viagem Laos / Camboja em Novembro, ou Dezembro... e moderação nos percursos e circuitos. O grupo de “séniores” que fez a viagem em Outubro teve, por vezes, dificuldades com a mistura de grande calor, humidade, ares condicionados e ambicioso plano de viagem...
2 Regatear, regatear: do tuk tuk ao tour organizado, da lavagem de roupa no hotel à massagem, do objecto ao trapo..... e, mesmo assim, raramente se chega à conclusão de se estar a pagar o preço devido...
3 Foram-nos úteis os guias de viagem que consultávamos amiúde.
4 Leitura extra feita: Combóio Fantasma para o Oriente, Paul Theroux, ed. Quetzal

t.