quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Arquitectura contemporânea em Tóquio e Quioto


Alguns exemplos da arquitectura contemporânea Japonesa


Tóquio

A actual cidade de Tóquio ressurgiu depois do violento terramoto de 1923 e das sequelas das bombas incendiárias lançadas pela aviação americana durante a segunda guerra mundial.

É neste contexto de destruição que surge um grupo de jovens arquitectos que, fortemente influenciados pelo movimento moderno, deram forma à reconstrução de Tóquio. Deste grupo faziam parte os arquitectos Kenzo Tange (Prémio Pritzker,1987), Junio Sakokura e K. Mayokawa. Mais tarde kenzo Tange afasta-se e passa a liderar uma segunda geração de arquitetos que rompe definitivamente com a estética modernista. Com as cidades japonesas animadas por dinâmicas construtivas surgem soluções inovadoras para os problemas que vão aparecendo. É, possivelmente, neste processo que foram emergindo, em praticamente todo o país, grupos de jovens arquitectos que, com grande qualidade, marcam a sua presença em muitas das cidades japonesas.

Hoje Tóquio tem cerca de 13 milhões de habitantes. É aqui que encontramos, no aglomerado da urbe, a arquitectura moderna e contemporânea entrelaçada com apontamentos da tradição japonesa.









Quando deambulamos pelas ruas Shinjuku, Ginza, Setagaya, Hasakusa ou Miniato arriscamo-nos a tropeçar num exemplar marcante da arquitectura mundial. Basta descermos a avenida Omotesando para vermos aí reunidas obras relevantes da arquitectura contemporânea japonesa:

- Cristian Dior building de Sejima & Nishizawa, cujas paredes exteriores construídas em vidro transparente cobrem uma segunda película interior de acrílico translúcido, proporcionam uma delicada e ambígua visão do que estará para além da fachada;  

- Omotesando Hill’s de Tadao Ando, que foi concluído em 2006, depois de grande polémica, porque foi construído no lugar onde alguns edifícios, em estilo Bauhaus, de habitação social edificados após o terramoto de 1923 e sobrevivente dos bombardeamentos da segunda guerra mundial. No entanto, Tadao Ando acabou por introduzir alguns princípios da “Bauhaus”. A fachada com 258 metros é composta por painéis eletrónicos cujas imagens se vão alternando continuamente;

- TOD’S Building de Toyo Ito, onde a transparência do vidro intercala com uma subtil estrutura de betão;  

- Norihiko Dan, com um bloco comercial (Boss), o edifício é composto por uma estrutura com numerosas colunas em forma de folha, construídas em betão armado e aço, cuja textura da madeira é dada pelo material da confrangem. Ainda junto à avenida Omotesando, numa sua perpendicular, descobrimos o edifício da "Audi Forum Tokyo", projectado pelo CDI (Creative Designer International) dirigida por Hiroyuki Yoshikawa que acerca desta obra se referiu nos seguintes termos: "que a inspiração do desenho exterior foi baseada numa combinação de icebergs e uma garrafa de plástico depois de passar por uma trituradora de PET".
O impacto à chegada estação de Shibuya (ampliada por Tadao Ando em 2008) é enorme. Quando percorremos o seu interior cercados por multidões silenciosas vão-nos surgindo imagens que nos conduzem para dentro uma ampla nave espacial subterrânea.











Quando nos acercamos do bairro comercial e administrativo de Shinjuku, deparamo-nos com a obra de kenzo Tange que se impõe com um conjunto diversificado de edifícios, onde a sua monumentalidade é distintiva.

A Cocoon Tower que se localiza junto à movimentada estação de Shinjuku é um arranha-céus metamorfoseado num verdadeiro campus universitário na vertical, a torre alberga cerca de 10 mil estudantes de três escolas (Moda, Informação e Tecnologia e Medicina). O designado Tokyo Metropolitan Government Building é um complexo composto por três construções distintas aglutinadas por ligações pedestres. A Shinjuku Park Tower, situada perto do Governo Metropolitano é constituída por três torres, com 235m, 209 e 182m de altura, que abrigam zonas comerciais, espaços habitacionais e nos pisos superiores o luxuoso hotel Park Hyatt Tokyo onde foi rodado o filme “Lost In Translation”.







Em Waseda praticamente escondida no sítio de Sekigushi encontrámos, com alguma dificuldade, uma obra interessantíssima de kenzo Tange, “St. Mary’s Cathedral”. A Sé cristã de Tóquio foi finalizada em 1964, substituindo a anterior, construída em madeira, de estilo gótico, que havia sido consumida pelo fogo durante os bombardeamentos da cidade. O actual edifício é revestido de aço inoxidável e, ao nível térreo, está assente sobre blocos de pedra. O contraste entre os dois materiais, remete-nos para uma sensação de leveza que é acentuada pela sugestão da imagem em forma pássaro com asas assimétricas.





No distrito de Asakusa, na tranquila localidade de Sumida, a dupla Sejima & Nishizawa desenhou o harmonioso museu que alberga a obra de Katsushika Hokusai, pintor do século XVIII que influenciou decisivamente o movimento impressionista e pós-impressionista.

O museu, com quatro andares, conta com um espaço de exposição permanente onde se evidencia a relação do artista com o sítio. Os outros espaços são dedicados a exposições temporárias, a livraria e a sala de leitura e conferências. Quando a luz incide no seu revestimento metálico é revelado um interessante jogo de planos, interrompidos por cortes angulares, que produzem elegantes efeitos de luz e sombra, originados pela amplitude cromática das tonalidades de cinza. Os rasgos triangulares da fachada permitem ainda a entrada de luz natural para dentro das galerias e, ao mesmo tempo, estabelecem uma ligação permanente entre o interior e o exterior.






De quase todos os locais de Sumida se avista a eminente Skytree Tower, de Tadao Ando. Assente sobre uma base triangular, onde se desenrola uma zona comercial, da qual surge o corpo em forma de tronco de cone que, com os seus 601 metros de altura, confronta todo o território envolvente.






Quioto


Capital do Japão por mais de mil anos. Durante esse período tornou-se a guardiã de muitos dos melhores exemplos de artes, cultura, religião e pensamento japoneses. Quioto consagra uma fantástica mistura arquitectónica, que vão dos arrojados edifícios públicos e comerciais (museus e galerias de arte), até aos numerosos templos e santuários tradicionais, classificados pela UNESCO. 

À chegada à estação ferroviária de Quioto deparamo-nos com um edifício de Koji Hara que, embora excessivo, evidencia o compromisso em fundir a contenção da tradição e o ímpeto do presente. Esta premissa revela-se muito presente na arquitectura contemporânea japonesa. A claridade que penetra através da estrutura em aço e vidro da sua cobertura acentua o contraste entre luz e sombra, revelando uma alusão clara aos shõji - painéis de correr com estruturas quadriculadas em madeira preenchidas com papel translúcido. Encontrámos em diversos locais edifícios que adotaram, de forma distinta, estas e outras soluções arquitectónicas baseadas na tradição construtiva japonesa.











O edifício Niwaka, de Tadao Anto, acolhe a marca “Niwaka Jewlery” e a moderna loja de artesanato “Kyoto design House”, onde são exibidas as obras dos modernos artesãos que, seguindo a tradição artística japonesa, incorporam técnicas e estilos contemporâneos. Também o projecto de arquitectura que apresenta um traçado inovador preserva a estética envolvente do bairro, num ambiente muito marcado por um sentimento de memória do passado.









Kamakura, Osaka, Nara, Himeji ou Kobe são cidades onde também se pode encontrar arquitectura moderna e contemporânea de excelência.










Arquitectos japoneses vencedores do prémio Pritzker:

Shigeru Ban 2014, Toyo Ito, 2013, Ryūe Nishizawa & Kazuyo Sejima, 2010, Tadao Ando, 1995, Fumihiko Maki, 1993 e Kenzo Tange, 1987.