terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A viagem ao Japão e a esFERA

“O globo é uma esFERA….viajar é preciso” - A viagem ao Japão e a condição humana  

Durante a viagem, algumas vezes nos encontrámos nas ruas com pessoas que vestiam  indumentária de gueixa. Ajeitavam-se de forma discreta para a fotografia. Desconhecendo se ainda persiste esta tradição, que conhecemos sobretudo através do cinema, ou se estas aparições são para turista ver, fomos conversando sobre o assunto. Alguns comentários entre viajantes ancoravam a sua função à “pureza” e “distinção” do “acompanhamento intelectual” e entretenimento que proporcionavam aos homens com posses e/ou poder. Diferenciavam-na das funções das concubinas. Eu, fiquei desconfiada de tanta putativa “pureza”. Pensei logo no absurdo do celibato dos católicos…..
Mas, as culturas são diferentes!?

Regressando da viagem retomei a leitura de “Depois do Banquete” de Y. Mishima que ficara a meio. Na página 168 pude ler:

“Os Sawamura eram, desde há muitas gerações, adoradores de Benzaiten(1). Por respeito para com a deusa virgem extremamente ciumenta, In nunca se tinha casado. Tomara por concubina uma gueixa de Yanagibashi, Umeme. Para salvar as aparências, tratava-a como uma criada. Umeme permanecera sempre nos bastidores e nunca pronunciara uma palavra na presença de visitantes. Tratava sempre aquele que era de facto seu marido por “Sua Excelência”.

  1. Benzaiten ou Benten é uma das sete divindades da felicidade.

Diz-se que a realidade supera a ficção, a ser assim, a ficção de Y. Mishima não deve ser um caso isolado.…?!

Apenas mais um pretexto que esta viagem e as leituras associadas proporcionaram para nos interrogarmos sobre a natureza humana.

Por coincidência, ou não, Frei Bento Domingues, na sua crónica no jornal “Público” de 19 de Novembro de 2017, intitulada “Teologia da libertação ou libertação da teologia”, também nos confronta com pungentes interrogações.
A propósito de uma das leituras que ele refere (António Damásio), diz “…Conhecer essa maquinaria ajuda a não sermos cegos a conduzir outros cegos para o desastre pessoal e colectivo.”
Eu, que não sou crente, agradeço muito aos crentes que libertam e assim conseguem pensar e escrever. 

Afinal, apesar das diferentes crenças, religiões e culturas, os povos não são assim tão diferentes…… Talvez sejamos mesmo mais iguais do que aquilo que pensamos… somos a mesma humana natureza.

Assim recordo o lema deste blog de viagens: O Globo é uma esFERA…viajar é preciso!


Fotos de a de Freitas