Índice:
1 - A FADIGA DOS JAPONESES….Pag.1
2 – WASABI….Pag.1
3 - EKEBANA- Arranjos Florais….Pag.1
4 - A ARTE DA EMBALAGEM….Pag.2
5 - BONSAI….Pag.2
6 - ORIGAMI….Pag.3
7 - CLÁSSICOS DO CINEMA JAPONÊS / 7.1 - “ O Elogio da Sombra” ….Pag.3
8 – HAIKU, ….Pag.4
9 - MATSUO BASHÔ
(1644-1694) ….Pag.5
10 - Hokusai – Pintor- (1760-1849) ….Pag.6
11 - HISTÓRIA E RELIGIÃO / 11.1 - “ Japão o país dos desastres” ….Pag.6,7
12 - JESUÍTAS, a viagem para o Oriente. ….Pag.8
13 - JOÃO RODRIGUES (1561-1633) ….Pag.9
14 - LUÍS FRÓIS (1532-1597) ….Pag.10
15 - CRISTÓVÃO FERREIRA….Pag.10
16 - WENCESLAU DE MORAES (1854-1929) ….Pag.10
17 - DE “O CULTO DO CHÁ” de WENCESLAU DE MORAIS….Pag.11
18 - ARTE NANBAM….Pag.12
19 - SEPPUKU – HARAQUIRI….Pag.13
20 - TEATRO KABUKI….Pag.13
21 - TEATRO NÔ E KYOGEN….Pag.14
22 - Livros consultados….Pag.15
1 - A FADIGA DOS JAPONESES
Os japoneses dormem em todo
o lado. Se bem que em qualquer parte do mundo se vêm pessoas a dormir nos
transportes públicos, no Japão a quantidade de dormentes é maior. No metro, nas
horas de ponta, chegam a dormir em pé, pois que não caem apertados entre tanta
gente.
Na universidade vêm-se os
estudantes a dormir na cantina e sobretudo na biblioteca.
Porfírio da Silva não se
atreveu a perguntar o porquê de tanto sono mas dá uma explicação não
fundamentada. Acha ele que tem a ver com a dimensão das casas habitação, muito
pequenas para a quantidade de pessoas que alberga. Nelas não há sossego nem
privacidade. A existência de “Hotéis do Amor” onde muitos casais procuram a
privacidade que não têm em casa, também os frequentam só para dormir.
2 - WASABI
Pasta verde picante usada
para acompanhar o sushi e sashimi.
Conhecida também por raíz-
forte, terá sido usada como antídoto para envenenamentos por ingestão de alimentos,
daí ser servido com o peixe cru. Ajuda na alergia respiratória como
descongestionante.
3 - EKEBANA- Arranjos Florais
Originária da Índia, os
japoneses tornaram esta forma de oferenda ao Buda numa arte sofisticada e
minimalista.
A arte dos arranjos florais
está ligada a valores simbólicos, religiosos e estéticos. O Ikebana mais
tradicional está relacionado com a trindade Budista (nos altares um Buda grande
está ladeado por dois de menor dimensão), três pés de alturas deferentes formam
um triângulo. O ramo maior simboliza o céu, o médio o homem o mais pequeno a
terra. Pode representar também a trindade cósmica, fogo, água e terra, ou ainda
o nascimento a maturidade e morte. O Ikebana baseia-se na composição
assimétrica dos três elementos e também aqui o espaço vazio adquire um valor
estético, permitindo ao observador completar e aprofundar o objecto da sua
contemplação.
É de salientar o evidente
contraste entre a sobriedade e simbolismo dos arranjos florais japoneses e a
profusão de flores e formas dos arranjos ocidentais.
O crisântemo, “kiku”,
símbolo do sol, é a Flor Nacional do Japão e símbolo da Família Imperial, e por
isso representada no seu selo.
Representado na forma
simplificada, ou mais realista o crisântemo aparece no Japão, em todo o lado:
nos diversos órgãos institucionais, nas formas de arte tradicionais, como
padrão nos tecidos, em tatuagens, na capa do passaporte, na moeda de 50 yenes.
4 - A ARTE DA EMBALAGEM
Apesar do acto de embrulhar
se basear numa necessidade prática, no Japão não se limitou a satisfazer essa
função. A técnica atingiu tal perfeição que as embalagens resultavam mais
atraentes que o próprio conteúdo. Deixaram de ser um meio, para se converterem
num fim.
Nas embalagens tradicionais
os materiais usados eram, palha de arroz, bambu, folhas e cascas de madeira.
A palha como material de embalagem foi usada
pelo homem desde sempre, resistente, flexível, de fácil manuseamento, ideal
para objectos frágeis. O papel e o tecido surgem mais tarde.
Por exemplo, o “Furoshiki”,
que é um simples pano quadrado, com ele os japoneses embalam qualquer objecto.
Conseguem, por exemplo, acondicionar de forma segura uma ou duas garrafas
enroladas no pano de uma maneira complexa e muito engenhosa, sendo o nó, em
cima, a pega da embalagem. ( participei uma vez num workshop de furoshiki, mas
não aprendi nada. Afinal o que a menina queria, não era ensinar a técnica, mas
sim vender os seus próprios panos.)
Entre nós também o pano
quadrado foi usado mas de uma forma mais simples, para fazer trouxas de roupa e
no campo para transporte de produtos agrícolas.
Tenho uma fotografia, antiga, onde a minha Mãe
tem pendurado no braço um lenço de cabeça, atado nas quatro pontas, servindo de
mala. Também se devem lembrar do lenço de assoar dos homens do campo, em cujos
vértices faziam quatro nós e que usavam na cabeça para se proteger do sol.
É também “genial” a famosa
embalagem japonesa para ovos, feita com palha de arroz, o “Tamagotsuto”, onde
os ovos postos na vertical, são envolvidos através de uma intrincada forma de
entrelaçamento.
Tudo era primorosamente
embalado e a forma adequada a cada conteúdo: peixe seco, peixe assado, pasta de
arroz, legumes, sakê. Até as moedas, quando oferecidas, eram colocadas no
centro de um papel quadrado. Dobrando e retorcendo a parte que envolve a moeda,
o papel tomava a forma de uma flor.
“ A estrutura actual da
produção, assente no fabrico em grande escala de produtos em série já
embalados, proporcionou uma grande comodidade ao nosso quotidiano. Temos o
dever de guardar a memória das coisas que a humanidade perdeu em troca desse
bem-estar material.”
De Hideyuki-Oka que
organizou a exposição “ A Arte da Embalagem Tradicional Japonesa”, que esteve
patente na F.C.G. em 1987 e de cujo catálogo retirei algumas notas.
5 - BONSAI
É a paciente técnica de
fazer crescer árvores em miniatura.
Numa pequena taça é
plantada a árvore, através da poda das raízes e dos ramos e também de arames
que, amarrados estrategicamente permitem modelar a forma desejada da árvore.
Três anos é o tempo mínimo que
demora a fazer um Bonsai, no entanto, diz-se no Japão que um Bonsai deve ser
plantado por um pai cujo filho continuará a cuidá-lo para poder ser apreciado
pelo neto.
A forte relação que os
japoneses têm com a natureza, o animismo latente no Xintoísmo, e também no
Budismo Zen, é materializado na prática do Bonsai.
Animismo, (do latim, alma,
vida) baseia-se na crença de que toda a natureza e os fenómenos a ela
inerentes, possuem essência, espírito, alma. O Animismo que antecedeu as
religiões continua a estar presente nos nossos dias. Não só na cultura dos
povos primitivos actuais, nas várias religiões orientais e nas formas de
paganismo que ainda prevalecem nas culturas ocidentais.
6 - ORIGAMI
O papel foi introduzido no
Japão por monges budistas vindos da China. Os japoneses foram apurando a
técnica, criaram vários tipos de papel adequados aos mais diversos fins, com
ele fazem quase tudo e sobre ele exercem a sua grande arte, a escrita. São no
mundo os maiores sabedores de papel.
“Na superfície do papel
ocidental os raios luminosos parecem ressaltar, pelo contrário no papel
japonês, semelhante à superfície coberta de penugem das primeiras neves, a luz
é absorvida suavemente. Além disso, agradáveis ao tacto, os nossos papéis
dobram-se e amachucam-se sem barulho. O contacto é suave e ligeiramente húmido,
como o de uma folha de árvore.” Diz Tanizaki.
O “Tsuru”, o grou japonês,
ave semelhante à cegonha, é o modelo mais conhecido do origami. Por esta ave
ser monogâmica simboliza o amor conjugal, depois de Hiroshima passou também a
simbolizar a Paz.
Também temos os nossos
origamis: Leques, Chapéu feito em papel de jornal, Barquinho em papel, Avião,
Caixa para bolos em papel manteiga, o Quantos queres?, Cartuxo para as
castanhas assadas etc.
7 - CLÁSSICOS DO CINEMA JAPONÊS
NAGISA OSHIMA ( QUIOTO
1932-2013) MERRY CHRISTMANS MR.
LAURENCE( 1983 ) IMPÉRIO DOS SENTIDOS… ETC
YASUIJIRO OZU ( TÓQUIO 1903-1963 )
BOM DIA / A FLOR DO EQUINÓCIO / DIA DE OUTONO / VIAGEM A TÓQUIO / O GOSTO DO SAKÉ… ETC
AKIRA KUROSAVA (TÓQUIO 1910-1998) / OS 7 SAMURAIS / DERZU USALA / RAN / SONHOS / RAPSÓDIA EM AGOSTO… ETC
KENJI MISOGUCHI (1898-1956) /OS CONTOS DA LUA VAGA / OS AMANTES
CRUCIFICADOS / O INTENDENTE SANSHO / FESTA EM GION…ETC
MASAKI KOBAYASHI – FILME DE 1962 –“ HARAQUIRI”
7.1 - “ O Elogio da Sombra”
Junichiro Tanisaki (1886-1965), é
considerado, juntamente com Yasunari Kawabata (1899-1972) prémio Nobel em 1968,
e Yukio Mishima (1925-1970) uma das maiores figuras da literatura japonesa do
século xx.
O
“Elogio da Sombra” é uma das suas principais obras e um dos mais fascinantes
ensaios sobre as diferenças entre Ocidente e Oriente.
O”toko
no ma” é um nicho com o chão ligeiramente alteado em relação ao da divisão em
que se encontra. Habitualmente feito na parede da sala principal, desempenha um
papel capital na decoração da casa japonesa tradicional. É aí que se pendura
uma pintura um objecto de arte em cerâmica ou bronze ou ainda um arranjo
floral. O bom gosto dos donos da casa avalia-se pela decoração do” toko na ma.”
Sobre
o mesmo escreve Tanisaki.
“
De cada vez que contemplo um “toko na ma,” essa obra-prima do requinte, fico
maravilhado por constatar até que ponto os japoneses conseguiram penetrar nos
mistérios da sombra. E isto sem visar especialmente um efeito determinado. Numa
palavra, sem outro suporte para além da simples madeira e paredes nuas,
compôs-se um espaço recatado onde os raios luminosos que aí deixamos penetrar
produzem, aqui e além, recantos vagamente escurecidos. E no entanto,
contemplando as trevas escondidas atrás da viga superior, em redor de uma jarra
de flores, sob uma prateleira, e sabendo perfeitamente que são sombras
insignificantes, experimentamos e sensação de que, nesses locais, o ar encerra
uma espessura de silêncio, que uma serenidade eternamente inalterável reina
nessa escuridão. Afinal quando os Ocidentais, falam de “mistérios do Oriente”,
é bem possível que se refiram a essa calma um pouco inquietante que a sombra
segrega quando possui essa qualidade.”
“De
uma forma mais geral, observar um objecto reluzente, transmite-nos um certo
mal-estar. Os ocidentais usam, mesmo para a mesa, utensílios de prata, de aço,
de níquel, que costumam polir para os fazerem brilhar, enquanto que nós temos
horror a tudo o que reluz desta maneira. Também nos acontece, é certo,
servirmo-nos de vasilhas, taças frascos de prata, mas estamos longe de os polir
como eles o fazem. Muito pelo contrário: rejubilamos quando vemos as suas
superfícies escurecerem e, com a ajuda do tempo enegrecerem completamente; não
há casa alguma onde uma criada insensata não receba uma reprimenda por ter
puxado o lustro a um objecto de prata coberto de uma preciosa patine.”
8 - HAIKU
O
Haiku é o resultado da lenta depuração que a poesia japonesa sofreu ao longo de
séculos.
Poema
breve composto por 17 sílabas métricas, dispostas em 3 versos de 5-7-5 sílabas.
Os
Haiku perfeitos de Bashô não encontram, na sua tradução nas línguas europeias,
tal rigor de distribuição silábica, pois há uma grande diferença entre a
escrita ideográfica japonesa e a escrita alfabética ocidental, não havendo
inteira correspondência entre as unidades de som japonesas e as sílabas.
No
Haiku não há palavras a mais. Poupar as palavras, escolher as mais justas,
tentar ser simples e natural.
O
poema divide-se em duas partes, uma é descritiva a outra inesperada, a
percepção poética surge da colisão entre ambas.
O
Haiku nasce de um acontecimento vivenciado, surge a partir de um momento
concreto que se viveu e que impressionou os nossos sentidos. Sugere a essência
do acontecimento.
Esta
poesia compartilha com outras artes características da estética Zen, a profunda
simplicidade da natureza
9
- MATSUO BASHÔ (1644-1694)
O
grande poeta do Japão, tão famoso naquele país, como o é Camões em Portugal.
Agradecido aos seus discípulos por lhe terem
plantado uma bananeira no jardim, mudou o seu nome de nascimento para Bashô
(bananeira). Dedicou-se à prática Zen e a sua vida foi uma permanente caminhada
em busca do conhecimento e do contacto com a natureza.
Alguns
poemas de Bashô
Brisa
ligeira
A
sombra da glicínia
Estremece.
Crisântemo branco
Nem um só grão de poeira
A
vista descobre.
Extingue-se o dia
Mas não o canto
Da cotovia
Escondido sob a folhagem
Mesmo o apanhador de chá pára
Para escutar o cuco
Num atalho da montanha
Sorrindo
Uma violeta
A pequena lagarta
Vê passar o Outono
Sem pressa de se tornar borboleta
10 - Hokusai – Pintor- (1760-1849)
Autor de “A Onda” ou a “A Grande Onda de Kangawa”. Famosa xilogravura
(gravura que utiliza a madeira como matriz), onde uma grande onda ameaça barcos
de pescadores vendo-se ao longe o monte Fuji.
Era uma técnica muito usual da qual se faziam uma enorme quantidade de
cópias.
Conhecem-se 36 gravuras de “A Onda,” algumas pertença de grandes museus ocidentais. (Por altura dos meus 20 anos, uma reprodução desta gravura esteve
durante muito tempo afixada no meu painel de imagens. Aquela onda foi para mim,
durante muito tempo, um tsunami. Depois de ver as imagens do
Japão, pude constatar que a onda provocada por um tsunami não é uma onda
tubular, daquelas onde se faz surf, mas sim uma terrível massa de água,
“maré-onda”, que avançando devastadora, leva tudo à sua frente).
11 - HISTÓRIA E RELIGIÃO
Em 1543, três portugueses
naufragam num junco chinês, e dão à costa em Tanegshima. Chega assim ao Japão a
primeira arma de fogo.
Esta novidade terá uma
influência enorme nas guerras feudais e no processo de unificação do país. A
atitude facilitadora dos senhores feudais em relação ao comércio com os
portugueses, permitiu uma abertura propícia à missão dos missionários Jesuítas.
No Japão o Budismo foi
recebido de forma a adaptar-se a um sincretismo (fusão de várias doutrinas)
religioso, onde as religiões devem servir a pluralidade do ser humano. Face às
influências estrangeiras, o Japão não as imita, o processo de aculturação é
selectivo. Esta diversidade de valores oposta a uma religião de um só Deus, e
ao proselitismo* cristão, ainda que inicialmente bem aceite, levou, juntamente
com outros factores, à expulsão dos Jesuítas, e à perseguição dos cristãos
convertidos.
Ao chamado “Século
Cristão”(1543-1639), segue-se um período de reclusão e isolamento( Período
Edo), face ao relacionamento com o estrangeiro, que vai durar até ao século
XIX.
Actualmente os japoneses
praticam simultaneamente as duas religiões, o Xintoísmo e o Budismo de acordo
com as circunstâncias da vida. Devido à natureza sincrética das duas religiões,
no que à “vida” diz respeito fica a cargo dos rituais Xintoístas, no que se
relaciona com a “morte,” e para além dela, os rituais são conforme as práticas
Budistas. As duas crenças completam-se. Reside aqui a dificuldade de perceber
se se está perante um templo Budista ou um santuário Xintoísta.
O Xintoísmo é a religião
com maior número de seguidores, incorpora práticas ancestrais muito anteriores
à chegada do Budismo, que do norte Índia, hoje Nepal, passou para a China e
depois para o Japão.
No Xintoísmo toda a
natureza é sagrada. Tudo no universo é divino, interligado, interdependente.
Não só os seres vivos mas toda a natureza deve coexistir em harmonia.
Contrariamente à visão
ocidental onde o homem procura dominar a natureza, na concepção Xintoísta
considera-se que o ser humano não pode viver em luta com a natureza, o que não
deixa de ser uma ironia num país onde as condições geográficas e climatéricas,
são consideradas uma das mais implacáveis do mundo.
*Proselitismo: Acção de
converter em prol de uma determinada causa, doutrina, ideologia e religião,
onde por vezes são utilizadas formas de persuasão anti-éticas e até agressivas.
Este proselitismo é amplamente praticado pelos radicais muçulmanos.
(…e pronto fico-me por aqui
é muita religião para a minha cabecinha judaico-cristã. Budismo Zen, que se
baseia na meditação e em exercícios de postura e respiração, Taoismo,
Confucionismo, o carma, o nirvana que é a meta do Budismo etc etc etc…)
11.1 - “ Japão o país dos desastres”
A maior zona sísmica em actividade do planeta.
Correndo o risco de vos assustar, não resisto a transcrever o que
disse o escritor Francês, Michael Ferrier que vive em Tóquio e é o autor do
livro” Fukushima”. Descreve assim o que se passou no dia 11 de Março de 2011,
quando o grande terramoto assolou o Japão. “Os pés da mesa e das cadeiras
levantam-se e abatem-se de novo, como se a mesa batesse os dentes, como se as
cadeiras tivessem febre”. Com a mulher debaixo da mesa, como mandam as normas,
ele escreve…”Registo mentalmente que se trata de um sismo vertical, dos quais
se diz que são os mais perigosos”.
O sismo teve a duração de dois minutos e intensidade de grau 9, o
segundo maior desde que há registos. O de maior grau foi registado no Chile,
9,5.
Seguiram-se as réplicas, mais de quatrocentas numa semana algumas de
grau 7. “Para termos um dia sem uma réplica teremos de esperar por…8 de Junho”.
O sismo libertou uma energia 24 mil vezes superior à bomba largada em Nagasaki.
Morreram mais de 20 mil pessoas.
“O Japão deslocou-se 5m para leste. Aproximou-se 3,60 m dos Estados
Unidos”.
“Um parque estacionamento
subterrâneo elevou-se a mais de um metro acima do solo”.
Os pescadores de polvos na província de Tokushima fizeram capturas
gigantescas nos dois meses antecedentes, três a quatro vezes superiores do que
em anos anteriores.
O Japão tem o melhor sistema de detecção de sismos do mundo. Cento e
oitenta sismógrafos, seiscentos aparelhos de medida, estrategicamente dispostos
por todo o arquipélago e também sensores instalados no fundo do oceano. Este
sistema permitiu que os sensores instalados nos comboios de alta velocidade
fizessem travagens de emergência em 27 comboios, nenhum deles descarrilou,
salvaram-se assim milhares de vidas.
Veio depois o tsunami e…Fukushima.
Diz um defensor do nuclear: “ Fukushima apresenta-se como uma
actividade económica que pretende assegurar o conforto e a opulência das
populações com o máximo de segurança e satisfação para todos”
Que dizer então dos efeitos das radiações em Hiroshima, Xernobyl e
Fukushima?
Sabe-se que entre 1945 e 1952, vigorou no Japão, imposto pelos
americanos, um código para a imprensa que proibia qualquer informação e difusão
de imagens relativas aos bombardeamentos atómicos e suas consequências.
“ A opacidade que rodeia em todos os países do mundo as fileiras da
energia nuclear é espantosa. É uma indústria secreta”.
Dos níveis de radioactividade do solo e do ar e das águas lançadas no
Pacífico, nada se sabe, tão pouco o estado em que ficaram os núcleos dos
reactores.
Dizer ainda que este autor, Michael Ferrier, vive em Tóquio há mais de
vinte anos, escritor e investigador, é professor de Literatura Francesa.
(Vi-o em 2013, no lançamento do livro, no finado Instituto
Franco-Português)
Este livro é um forte testemunho contra a opacidade que envolve a
questão da energia nuclear, que submete cegamente a tamanho flagelo, toda a
humanidade.
E nós com Almaraz aqui tão perto…
12 - JESUÍTAS, a viagem para o Oriente.
A Companhia de Jesus foi
fundada por dois espanhóis, Inácio de Loyola e Francisco Xavier, o primeiro
nascido no País Basco e o segundo em Xavier, Navarra.
Tinham como objectivo a
defesa e difusão do cristianismo pelo mundo.
D. João III apela ao Papa
para que este lhe envie missionários para espalhar a fé cristã pelas terras
descobertas pelos portugueses.
Foi com essa missão que
muitos jesuítas, espanhóis italianos e portugueses, partiam de Lisboa,
enfrentando os perigos de uma longa viagem para o Oriente.
“…Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana…”
A viagem entre Lisboa e
Nagasaki poderia demorar 2 anos.
Além de estadias
prolongadas em Moçambique, Goa e Macau, tinham ainda que enfrentar ataques de
piratas, tempestades e ventos desfavoráveis que atrasavam a viagem. Muitos
barcos ao saírem de Lisboa tinham de regressar e aguardar melhores condições
para se fazerem ao mar.
A bordo os perigos não eram
menores.
As instalações eram imundas, não havia
condições para a higiene pessoal, não havia instalações sanitárias, a comida
apodrecia com o calor.Com estas condições as doenças alastravam principalmente
o escorbuto e a disenteria.
Ao contrário dos barcos portugueses e
espanhóis, os barcos holandeses e ingleses eram mantidos limpos e tinham uma
cozinha única onde se preparavam todas as refeições. Nos barcos portugueses e
quando havia comida cada homem cozinhava as suas refeições, o fogo, apesar
de cuidadosamente vigiado, não impedia
os incêndios a bordo. E para tornar as coisas ainda piores, pragas de ratos
esfomeados, sem nada para comer, atacavam os homens enquanto dormiam.
Com estas condições morriam sempre mais de
metade da população dos barcos. Os que sobreviviam, chegavam num tal estado de
debilidade que tinham de ser internados no Hospital Real de Goa, criado para
esse fim. Chegavam a estar ali internados mil e quinhentos doentes e um francês
que o visitou declarou-se surpreendido com as excelentes instalações do
hospital.
E como se não bastasse há
que referir os naufrágios. “No período de doze anos que vai de 1579 a 1591,
vinte e dois navios afundaram-se entre Portugal e a Índia com largas perdas de
vidas e carga. Num período mais longo que vai de 1580 a 1640, cerca de setenta navios
perderam-se em rota para a Índia, e um número ainda maior afundou-se na viagem
de regresso quando as naus eram frequentemente carregadas de mercadoria de
forma exagerada”.
13 - JOÃO RODRIGUES
(1561-1633)
Nasceu em Sernancelhe,
parte para a Índia com14 anos e na China e no Japão viveu toda a sua vida.
Morre em Macau e é
enterrado na igreja de S. Paulo. (Esta igreja foi mandada construir por
cristãos japoneses exilados em Macau fugidos das perseguições e do martírio.
Outros ao ficarem, renegaram publicamente a sua fé mas continuaram a praticá-la
clandestinamente à semelhança do que fizeram os cristãos novos na Península
Ibérica)
Por haver registos sabe-se
que ele foi ali sepultado, assim como mais 237 jesuítas. Por nela ter havido um
incêndio em 1835, não restaram sinais dos seus túmulos, resistiu apenas a
magnifica fachada da igreja no cimo de uma larga escadaria.
Diz o Padre Michael Cooper,
autor do livro “RODRIGUES, O INTÉRPRETE”.
“ Talvez que o aspecto mais
surpreendente deste estudo sobre João Rodrigues seja o facto deste jesuíta
português ter tido de aguardar três séculos e meio por uma biografia. Poucos
homens tiveram uma vida mais aventurosa.
Durante os 56 anos que
viveu no Japão e na China conquistou a amizade dos dirigentes japoneses
Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu, teve um papel activo no comércio da seda
entre a China e o Japão e, durante alguns anos, foi o mais influente europeu em
Nagasaki e, para todos os efeitos, no Japão em geral. Conseguiu ainda encontrar
tempo para elaborar a primeira gramática publicada da língua japonesa, “Arte
Breve da Lingoa Japoa”, e já na velhice escreveu um longo trabalho sobre a
cultura japonesa que continua a surpreender os leitores modernos pela sua
perspicácia e riqueza de detalhes.
Por ter vivido tão pouco
tempo em Portugal ele escreveu “… como de lá vim moço e fui criado nestas
partes… não tenho estilo na nossa língua portuguesa nem método para escrever
resumidamente”.
Michael Cooper, sacerdote
jesuíta, nasceu em Londres. Foi professor na universidade de Sofia em Tóquio.
Regressa ao Reino Unido, e em Oxford faz a sua tese de doutoramento sobre a
vida e obra de João Rodrigues.
“Rodrigues, O Intérprete”
foi publicado em inglês em 1974 e traduzido para japonês em 1991.
14 - LUÍS FRÓIS (1532-1597)
Nasceu em Lisboa.
Com cerca de 16 anos e
depois de ter concluído estudos em humanidades e ter ingressado na Companhia de
Jesus, parte para a Índia e nunca mais volta a Portugal.
Desembarca no Japão, na
hoje província de Nagasaki. Aprende a língua o que lhe permite ser o tradutor
de muitos jesuítas e ter uma relação privilegiada com os senhores do poder.
Escreve “ A História do
Japão”, obra de referência para o conhecimento do Japão daquele tempo.
Escreve ainda “A Morte dos 26 Mártires de Nagaski”.
Graças a este texto. os católicos japoneses puderam identificar o local do
martírio onde em 1956, na colina de Nishizaca, foi erigido um monumento em
memória dos mártires. No mesmo local, uma escultura representando Luís Fróis,
tem na base a inscrição: “ Ele escreveu a história do encontro entre Portugal e
o Japão”.
15 - CRISTÓVÃO FERREIRA
Shusaku Endo ( 1923-1996),
escritor e católico.
A sua obra mais conhecida é
o romance histórico “Chimoku”,” Silêncio” de 1966. Nele relata a apostasia do
padre jesuíta português, Cristóvão Ferreira, que publicamente renunciou à sua
fé cristã. Os padres Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe ( no filme
interpretado por Adam Driver que fez de poeta em “Paterson”) chegaram ao Japão
em 1640, determinados a ajudar os
perseguidos cristãos japoneses e a descobrir a verdade sobre o que aconteceu ao
seu antigo mentor Padre Cristóvão Ferreira, de que corriam rumores de ter
rejeitado o glorioso martírio e ter cometido apostasia. Parece tê-lo feito
menos por convicção e mais para poder salvar da tortura e da morte um grupo de
fies católicos.
Shusaku Endo, nascido no
seio de uma comunidade católica, viveu o conflito entre a sua religião e a sua
identidade japonesa. Este dilema pessoal transparece na sua obra. Confessa numa
entrevista: “Fui baptizado em criança, isto é, o meu catolicismo foi um “pronto-a-vestir”.
Depois tive de decidir se faria o fato adaptar-se ao meu corpo, ou se o
deitaria fora para vestir outro. Muitas vezes senti que queria desfazer-me do
meu catolicismo, mas, finalmente fui incapaz de o fazer”
Martin Scorcese realizou o
“Silêncio”, identificado com o dilema central do livro, realizar um filme sobre
o mesmo, tornou-se uma obsessão pessoal que lhe levou 25 anos a concretizar.
16 - WENCESLAU DE MORAES (1854-1929)
Nasceu em Lisboa. Fez estudos
para Oficial de Marinha de Guerra. Parte para Macau onde foi oficial da
capitania e professor no liceu-seminário juntamente com Camilo Pessanha.
É em Macau que inicia a sua
actividade literária. Casa com uma chinesa da qual tem dois filhos.
Chega ao Japão em 1898 onde
assume o cargo de cônsul Português em Kobe e Osaka.
Aí se inicia o seu grande
interesse pela cultura japonesa que se reflecte em toda a sua obra
Aposentado em 1913, muda-se
para Tokushima. Aqui a sua vida é marcada pela actividade literária, pela sua
crescente “japonização” e pelas relações amorosas que mantém com duas
japonesas, tia e sobrinha.
Ali sofre alguma hostilidade por parte dos
japoneses. (li algures, que quando ele saía, levava nos bolsos rebuçados que
dava aos miúdos, para evitar que o importunassem. As suas longas barbas, pouco
usuais por ali, despertavam demasiada curiosidade nas pessoas.)*
Com a morte das duas
mulheres, primeiro a tia e mais tarde a sobrinha, seus grandes amores,
solitário e doente morre aos 75 anos.
Converteu-se ao Budismo e
no seu túmulo está escrito “O homem que abriu a janela do Japão para o exterior
através dos seus livros”.
Os japoneses estão-lhe
gratos.
As traduções japonesas das
suas obras têm grande aceitação. Ergueram-lhe dois monumentos um em Kobe outro
em Tokushima. Nos livros da escola elementar figuram um retrato e duas páginas
sobre Wenceslau de Moraes.
Foi ainda construído em Tokushima um museu em
sua homenagem onde estão reunidos todos os seus livros, objectos de arte e
muitas recordações pessoais.
Paulo Rocha (1935-2012),
cineasta, Adido Cultural da Embaixada Portuguesa em Tóquio entre 1975 e 1983,
realizou dois filmes sobre Wenceslau,”A Ilha dos Amores” e “ A Ilha de Moraes.
*ver texto de Wenceslau,
“Os Selvagens Cabeludos,” em “Fomos em busca do Japão”
17 - DE “O CULTO DO CHÁ” de WENCESLAU DE MORAIS
“Quem quiser tomar
conhecimento com a planta do chá, nas melhores condições de prosperidade e mais
belas galas de aspecto pitoresco, tem de ir até Uji, distante quinze milhas de
Quioto; escolhendo de preferência um dos primeiro dias de Maio, quando os
rebentos novos começam a vicejando, o que marca o início da faina da colheita.
Faina e festa…”
“ As moças de Uji estreiam
kimonos novos para o caso, arregaçando as mangas com fitas escarlate; amarram
em turbante em volta dos cabelos toalhas de cor azul e branca; e assim,
esbeltas, graciosíssimas, em ranchos de dez, de doze companheiras, dirigem-se
ao trabalho. É então um encanto para os olhos ir a gente surpreendê-las no afã
do seu mister, dispersas pelas campinas fora, como borboletas; indo de um ramo
a outro ramo, de um arbusto a outro arbusto, por vezes ocultando-se entre o
verde mais denso da folhagem. Os dedos róseos, miudinhos a escorrerem de
orvalho e multiplicando-se em gestos delicados, vão colhendo os rebentos tenros
do chá e atirando-os a grandes ceiras dispostas no chão; as bocas vão sorrindo,
patenteando as enfiadas alvas dos dentinhos; os olhos esbraseiam em juvenis
amores inconfessados; as vozes unem-se às vozes, em ritmos comoventes de velhas
canções locais”.
(Soa um pouco a Estado Novo sobre a “Alegria no Trabalho”, mas
obviamente, deliciosamente escrito)
“Na casa, nua de móveis,
porém mimosa de asseios requintados, figura sempre o braseiro sobre a esteira,
e nas brasas vai fervilhando a chaleira de ferro cheia de água; o Bom (uma
bandeja) está cerca, contendo o bule as cinco chávenas (cinco porquê? Talvez
por serem cinco os dedos em cada mãozita japonesa), os cinco pires de madeira
ou metal, o cofre de estanho contendo o chá em folhas e ainda o pequenino
recipiente de porcelana chamado yuzamashi, cuja ordinária serventia vai muito
em breve conhecer-se.
O sentimento artístico
japonês deprava-se naturalmente na indústria de hoje, em grande parte com
destino à exportação para a Europa e América;
É nos utensílios comuns de
uso indígena, onde não intervem o modernismo, que ainda reside o gosto
estético, puro e inconfundível da gente japonesa, revelando por si o complicado
conjunto de esmeros, de elegâncias, de quimeras em que a alma deste povo se
deleita.
No que respeita ao serviço
de chá, é inarrável a gentileza de todo este arsenal de bagatelas, minúsculas,
dando a impressão de serem destinadas a um banquete de bonecas.
A água passa da chaleira
para o yuzamashi, onde arrefece, pois é preceito fazer-se chá com água que
ferveu, mas que já não ferve; prepara-se depois no bule a infusão, que é
oferecida aos hóspedes nas pequeninas taças de fina porcelana.
… Para alegria dos olhos, a
simples preparação do chá imprime um relevo delicioso à graciosidade inata na
musumé, na atitude que lhe é mais habitual, de joelhos sobre a esteira, junto
do braseiro.
A mímica é impressiva,
única: privilégio daquela figurinha meiga e ondulante e daquela buliçosa mão,
de finíssimos contornos, da japonesa que é em suma, a Eva mais gentilmente
pueril, mais cativamente quimérica, mais feminina enfim, de todas as Evas deste
mundo.
Parece certo que jamais o
japonês, que ignora o beijo, haja poisado a boca naquela mão que exibe
esplendores de graça para servir-lhe o chá; o forasteiro em intimidade serena,
pode ensaiar o galanteio se a fantasia o tenta; e então verá talvez que a
mãozita da musumé, reconhecida, se aconchega de encontro aos lábios, se demora,
como uma rola dócil gulosa de carinhos.”
“ O chá japonês tem a
virtude de mitigar a sede. Assim se explica o hábito de os japoneses não
beberem água; mesmo na força dos calores, em pleno Agosto, a chávena de chá
saboreada a goles, lhes dá pleno consolo. Aponta-se-lhe mais outros condões:
excita ligeiramente o organismo, combate o cansaço das vigílias, predispõe ao
bem-estar, infiltra no cérebro não sei que subtil embriaguez, lúcida todavia,
que nos torna mais afectivos às sensações de agrado e mais aptos às elaborações
do pensamento.”
Segundo W. de Morais
Portugal escreve-se com
três ideogramas que significam, País das uvas ou País do vinho.
Palavras japonesas de
origem portuguesa:
Kirisuto - Cristo
Anima - Alma
Yaso - Jesus
Botan - botão
Mantô - manto
Shabon - sabão
|
Kappa - capa
Koppu
- copo
Pan -
pão
Kompeitô - confeito
Tempura
- tempero, fritura com polme
Tabako - tabaco
|
Palavras portuguesas de
origem japonesa
Chá, Biombo, Chávena
18 - ARTE NANBAM
A cultura Nanbam – a
cultura dos “bárbaros do sul”- é particularmente conhecida pelos magníficos
biombos que representam esses homens de aspecto insólito, de trajes negros e
narizes aduncos, guerreiros comerciantes e missionários.
Os japoneses do século XVI
olhavam os Portugueses simultaneamente com espanto e simpatia. E o que é mais
curioso é que nesses biombos o papel do “outro” cabe aos portugueses, ou seja:
fora daquilo que é habitual no eurocentrismo, eram os europeus os seres
exóticos dessas cenas.
A Arte Nanbam deve-se a
este encontro de culturas, representada não só nos biombos mas em muitos outros
objectos; nos trajes nobres, na decoração de objectos do quotidiano, alfaias
religiosas e armas de guerra.
O estranho vestuário
europeu provocou grande impacto e causou profunda influência no traje japonês.
Palavras como gibão, capa, raxa, meias, botão, ainda hoje fazem parte do
vocabulário japonês.
Usados desde há muito na
Europa, os óculos, eram contudo desconhecidos no Japão. Este facto causou
grande espanto aos japoneses.
O Padre Fróis descreve
situações curiosas…”O Padre Francisco Cabral entrando pela cidade de Guifu,
como tinha a vista curta, ajudou-se dos óculos para ver o sítio e nobreza
daquela terra. A gente plebeia se muito os estranhava pelos vestidos, sem
comparação foi neles maior a admiração que tiverão dos óculos, e como o Padre
passava de caminho e elles não podião fazer reflexão sobre o que vião,
totalmente se persuadio alguma gente simples que o Padre tinha 4 olhos, dous no
logar comum, onde os tem naturalmente todos os homens, e outros dous com alguma
distancia deitados para fora, que reluzião como espelho e que era coisa
temerosa de ver.”
19 - SEPPUKU - HARAQUIRI
Seppuku, vulgarmente
conhecido no ocidente por haraquiri, refere-se ao ritual de suicídio japonês.
Reservado à classe guerreia, consistia num corte horizontal no ventre, abaixo
do umbigo. O ritual era muito elaborado, o samurai banhava-se para purificar o
corpo e a alma, vestia-se com roupa branca, símbolo de pureza e de luto.
Espectadores assistiam à cerimónia. Para não prolongar o sofrimento do suicida,
um “carrasco” dava o golpe de misericórdia, executando a decapitação. O Seppuku
fazia parte do código de honra dos samurais que entregavam a sua vida à honra
de morrer gloriosamente, rejeitando cair nas mãos do inimigo. Também às
mulheres, esposas de samurais, aristocratas e guerreiras, era concedido o direito ao suicídio, não por
esventramento, mas cortando a veia jugular com um punhal e de um só golpe.
Antes da introdução do
Budismo no Japão, a história revela que o povo japonês tenderia a dar valor à
continuidade da vida. Com a tradição Zen, cujos conceitos desvalorizavam a vida
na sua transitoriedade para enaltecer a glória da morte.
Ao contrário das religiões
Cristãs para as quais o suicídio é um acto de desespero e um pecado, os
Budistas consideram-no um acto de lúcida abnegação.
Apesar desta prática ser
abolida oficialmente na segunda metade do séc xix, ela continuou a existir
voluntariamente. Entre os casos notáveis, destacam-se o do escritor Yukio
Mishima que em 1970 cometeu Seppuku meticulosamente planeado. Enviou ao seu
editor a parte final do seu último livro, e dirigiu-se para o Quartel General
das forças armadas de Tóquio. No pátio central do quartel exigiu a presença de
mil homens para ouvirem o seu discurso final onde fez a apologia do Japão e das
suas tradições, de seguida suicidou-se.
“Encarnou a tradição
japonesa, revoltou-se contra a ocidentalização do seu país, encarou o corpo
como a mais bela das criações e suicidou-se , como não podia deixar de ser. Eis
Yukio Mishima, escritor nipónico, considerado o máximo expoente do séc XX da
escrita do país do Sol Nascente.”
O Japão ocupa o 7º lugar na taxa de suicídios, sendo o 1º país a
Lituânia seguindo-se a Rússia e algumas Républicas da ex União Soviética.
20 - TEATRO KABUKI
Terá sido criado em Quioto, 1600, por uma sacerdotisa que levava à
cena um novo tipo de dança executada só por mulheres. A sua grande projecção
assustou o Shogun que as proibiu de representar. Jovens rapazes tomaram o seu
lugar, mas novamente se tornou escandalosa a afluência de homens adultos que
vinham apreciar os dotes dos jovens actores. O Kabuki passou então a ser
representado por homens adultos os “Onnagata”, actores masculinos
especializados em papéis femininos, e assim continua a ser praticado.
Não é um mero espectáculo para turistas. Numa sala com cerca de 2.000
pessoas, estariam duas dezenas de estrangeiros. As peças têm vários actos, um
acto pode demorar hora e meia, e desenrola-se ao longo do dia e pode-se comprar
bilhete só para um acto. ( O “Tchiloli” de S. Tomé e Príncipe também se
desenrola ao longo do dia, as pessoas vão e vêem, vão comer e regressam.)
O reportório mantém-se imutável, contam episódios históricos em torno
de temas como o amor-suicídio. O público bate muitas palmas e grita para
incentivar os actores.
A sala mais tradicional, a Kabuki-za , em Ginza, foi remodelada em
2013.
Na forma de representação não se procura a imitação do real, as emoções
são expressas de uma forma exagerada. Dizem que Brecht foi influenciado pelo
Kabuki. Aos ocidentais é dado ouvir um resumo em inglês.
A maquilhagem é um factor de extrema importância, é com ela que o
actor homem se tenta parecer com uma mulher.
21 - TEATRO NÔ E KYOGEN
O espectáculo no Teatro
Nacional Nô, era composto por duas peças.
A
primeira o Kyogen, bastante diferente do Nô, é uma representação realista e
humorista em cujas actuações os actores falam alto e cantam, retratando
situações da vida comum da sociedade feudal. Nesta sala há legendagem
individualizada em cada lugar, em inglês e japonês, pois que os nacionais
também têm dificuldade em compreender a linguagem arcaica das peças que se
mantém inalterável há muitos séculos.
O teatro
Nô obedece desde sempre a regras muito padronizadas de representação, o cenário
obedece a formas imutáveis e o uso de máscaras caracteriza e identifica este
espectáculo.
Até
finais do séc XIX o teatro era feito ao ar livre ( em Tóquio ainda se vêm
destes palcos). Quando passou para dentro das salas o palco manteve as mesmas
características. Tem a forma de um templo apoiado por quatro colunas. Os pilares
além de suporte, têm a função de orientar os actores que com as suas máscaras
têm dificuldade em ver o espaço onde se movimentam. Há uma ponte por onde
entram e saem os actores, uma zona para os músicos e outra para o coro.
Os
gestos, movimentos e poses dos actores, são rigidamente padronizados, cujo significado só é entendido
pelos japoneses graças ao seu conhecimento das tradições. Os actores caminham
deslizando erectos, como se tivessem rodas nos pés. O calçado e o piso ajudam a
conseguir este efeito. Alguns personagens não usam máscaras, mas até esses não
devem exprimir emoção, o seu rosto mantém-se impávido tal como os das máscaras.
Outra
característica desta representação, são as paragens, os momentos de “não
acção”. O actor pára mas não relaxa, mantém a tensão.
Estes
momentos de “não acção”, fazem parte de um princípio estético próprio da
cultura japonesa, instantes cruciais de pausa e recomeço, recomeço e pausa. A
valorização do “Ma” ou espaço vazio, nesta como noutras formas de arte, é o espaço
a ser preenchido pelo receptor.
Acontece
no Nô, no Kabuki, no Haiku, tal como na Manga.
22 - Livros consultados
“Elogio de Sombra” Junichiro Tanisaki
“Rodrigues, O
Intérprete” Michael Cooper, S. J.
“O Culto do Chá” Wenceslau de Morais
“A Arte da Embalagem
Tradicional Japonesa” catálogo expo
F.C.G.
“O Gosto Solitário do
Orvalho” Matsuo Bashô
“Fukushima- Crónica de um
desastre” Michael Ferrier
“Traje Namban” catálogo expo M.A.A.
“Caderno de Tóquio” Porfírio Silva
“Fomos em busca do
Japão” Camilo Martins de Oliveira
“O Japão é um lugar
estranho” Peter Carey
Wiquipédia
a de Freitas
25 Setembro 2017