MAIO
No início do poema dedicado ao Maius, Ovídio apresenta uma discussão
sobre o nome do mês, sugerindo várias hipóteses. Na primeira hipótese, o nome
do mês poderá estar relacionado com a deusa Maia (pequena mãe), responsável
pelo crescimento das plantas, mãe de Mercúrio que era protetor da medicina e
das ciências ocultas. Por esse motivo, Maius era chamado "o mês do
conhecimento". Outra possibilidade
descrita pelo poeta refere-se ao facto de que o mês era também dedicado aos
antepassados: aos Maiores, ou seja, aos mais velhos. Havia, neste mês,
uma festa dedicada aos que já haviam partido: os Lêmures, almas dos mortos que aguardavam o descanso eterno. Ovídio
não toma partido pela origem que poderá ser a mais acertada.
Já nesse tempo, os tempos vão
comendo as origens e quem vai chegando acede só ao que resta.
Nesta altura do ano há sempre um lastro de trovas pelos ares. Maius maduro Maius ouve-se em coro rochoso quando ao entardecer se percorre o areal
despovoado de S. Torpes ou da Vieirinha. As rochas sabem-no bem porque o seu
conhecimento é fruto da experiência das cíclicas vivas marés. Fixas, pesadas e
brilhantes quando molhadas respiram passados vulcânicos guardados em relíquias
sedimentares que agasalham todos os rugidos da construção do universo em si.
O Mauis está ali nelas,
efervescente como a espuma salgada que vai dançando e desfazendo-se e, vem
crescendo espraiando-se em abraços de acumulada sabedoria.
Por isso, em Maio, deve ouvir-se à exaustão a densidade das rochas e
voltar a ler-se todos os poetas.