domingo, 23 de junho de 2019

Nossa Senhora de Kazan e Hermitage

São Petersburgo 
Igreja de Nossa Senhora de Kazan.
Lá dentro um ícone da Nossa  Senhora  considerada  a “Protectora da Rússia”. É a imagem mais venerada pelos ortodoxos russos.
O Ícone original, que se encontra em Moscovo, andou perdido após a revolução. Foi mais tarde encontrado por um coleccionador inglês que a vendeu ao  “Exército Azul de Nossa Senhora” e esta congregação americana entendeu que o local mais apropriado para a guardar seria em Fátima.
Foi condição que após se concretizar um dos desígnios de Fátima, a conversão da Rússia, o ícone deveria ser devolvido ao seu povo. Por lá ficou durante 20 anos.
Quando em 1993 o Papa João Paulo II visitou Fátima a imagem foi-lhe confiada e 10 anos mais tarde, finalmente, o Ícone de Nossa Senhora de Kazan voltou a casa.


Depois o Hermitage, a enorme Praça do Palácio e encontrar a entrada dos bilhetes pré-comprados que nos evitaram as longas filas de espera.
Entrámos. Na grandiosa escadaria, nos salões, nos tectos, nos candeeiros, nas portas, enfim por todo o lado o ouro brilha, o ouro do poder, o poder do ouro…
Depois a Pintura. Sendo a segunda maior colecção de arte do mundo, a outra está no Louvre.
Impossível ver tudo, há que fazer opções.
Refiro apenas  “ O Jardim das Delícias Terrenas”. É uma réplica da parte central do tríptico de Bosch cujo original se encontra no museu do Prado e cujo o autor, anónimo, foi um seguidor de Bosch.
Pintura e mais Pintura. É sabido que ao fim de algum tempo a percepção desvanece-se, o estímulo não acontece e instala-se o cansaço.
Saímos para o exterior e no Pequeno Hermitage fomos ver a vastíssima colecção de arte europeia, bem representada pelos grandes artistas da primeira metade do século XX.
Deparámo-nos com uma solução arquitectónica surpreendente e no meu entender, inteligente. Num dos pátios interiores do Palácio, por baixo de uma cobertura que deixava passar a luz natural, foi feita uma muito interessante construção ( não consegui saber quem foi o arquitecto) para aumentar o espaço expositivo. Presumo que esta construção terá feito parte do conjunto de intervenções aquando do restauro do museu, terminadas em 2014, ano em este fez 250 anos, e que terá levado o Sr Putin a dizer que o Hermitage é o orgulho da Rússia.
Aqui  vou referir um pintor russo que gosto especialmente, Kasimir Malevich  (1879-1935), e o seu “ Quadrado Negro “.
Malevich criou um movimento artístico a que chamou Suprematismo, baseado num abstraccionismo geométrico que, usando formas simples como o quadrado ou o círculo, rompeu com a arte representativa vigente.
Este não alinhamento à arte oficial Soviética fez com que fosse perseguido, preso e torturado. Morreu na pobreza em São Petersburgo. A sua obra ficou esquecida e só nos anos 70 voltou a ser reconhecido como um mestre da arte abstracta.
Entre muitos outros, também o quadro de Edgar Degas, “ Place de la Concorde” me chamou a atenção pelo inusitado enquadramento da cena, mais parecendo um acaso registado por uma máquina fotográfica.











No regresso ao hotel pudemos admirar um excelente exemplar de Arte Nova, o edifício Singer, situado na avenida Nevsky Prospekt, a principal artéria da cidade e em frente à Igreja de Nossa Senhora de Kazan.






a de Freitas

29 maio 2019

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Viagens e leituras



Nikolai Gogol

Durante a viagem de avião fomos lendo a “Avenida Nevski” de Nikolai Gogol. Quem dá voz à voz de um autor é a voz de cada leitor que com ele se cruza. 
Essa é a ressonância das palavras em transumância.

Viajar é como ler um livro e, ler um livro é como viajar. Retira-se da viagem, tal como de um livro, aquilo que faz sentido com o mundo de cada um. Retira-se de um livro mais ou menos conforme nos deixamos entrar nele e isso tudo nos transborda para dentro do que em nós já está a amadurecer. Na viagem também se retira mais ou menos conforme acolhemos mais ou menos os pólens do que nos é alheio e estranho.

Na viagem que fazemos num livro, uma parte significativa, pode facilmente ser determinada pelo seu autor se ficarmos prisioneiros nos seus enredos. Mas, se nos deixarmos ensopar por aquilo que nele desemboca no fundo de nós aí nasce o nosso sentido. Essa é a nossa viagem naquele livro.

Na viagem o viajante tem de se disponibilizar para dar espaço a uma simbiose entre ser o autor de uma narrativa e o seu leitor. Desafiar-se a perder-se e a reencontrar-se, enovelando-se sem que a meada em nó cego em nós se embarace. Abrir brechas na nossa caverna e questionar as nossas certezas.

É um desafio que facilmente pode ser ofuscado pelo fascínio de cenários luxuosos, enredos e histórias de cordel…. 


Viajar é preciso porque o mundo é uma esFERA!

IRS

São Petersburgo, Catedral Sangue Derramado, Castelo e Palácio Mikhailovsky, Campo de Mars, Fortaleza e Catedral de Pedro e Paulo, Catedral de Santo Isaac


São Petersburgo

Quando aterramos a noite cobria a cidade mas era um estranho escuro, aquele das noites brancas, com o qual a iluminação pública não consegue obter contraste. 
No percurso do aeroporto até ao hotel, as referências que o olhar buscava não se deixavam destapar, tudo se dissimulava na penumbra da iluminação das ruas diluída na noite branca. Todas pareciam iguais, compridas, largas e ladeadas por edifícios apalaçados e de grandes fachadas. Tudo parecia geometricamente planeado sem um elemento que aparente ser fruto de um acaso.

A primeira incursão, neste primeiro dia, começou pela visita ao Templo da Ressurreição de Cristo ou Catedral do Sangue Derramado. Saindo do hotel, contornámos o quarteirão e deparámo-nos com a sua densidade de formas e cores. Na configuração daquele local sente-se um clima mais orgânico embora muito circunscrito, parece que o planeamento sucumbiu só naquele recanto. O espaço que a ladeia é reduzido mas a igreja impõe-se e destaca-se, com as suas formas curvas e coloridas, no meio de tanta retidão circundante. A densidade do seu corpo, que se sente no seu exterior, supera-se no seu interior. A massa das paredes e elementos estruturais adensa-se com a profusão de imagens.  



                             

                      



                          

Catedral do Sangue Derramado/Templo da Ressurreição de Cristo - é uma igreja ortodoxa, situada na margem do canal Griboyedov, próximo do parque do Museu Russo e da Nevsky Prospekt. A igreja foi construída no local onde o Czar Alexandre II da Rússia foi assassinado, vítima de um atentado no dia 13 de março de 1881. A sua construção decorreu entre 1883-1907 e os seus  Arquitectos foram Alfred Parland e Arquimandrita Ignácio.


Muito perto da Catedral, no Palácio Mikhailovsky está instalado o Museu Russo que alberga uma vasta coleção com cerca de 400 mil obras, de todas as escolas e géneros. Está fechado à terça feira e por isso não o visitámos.
Seguimos em direção ao Castelo Mikhailovsky. Este Castelo fica situado nas margens dos rios Moika e Fontanka. Na outra margem do rio Moika situa-se o Campo Mars

                           



Castelo Mikháilovski - O Castelo Mikhailovsky foi construído como residência para o Imperador Paulo I, pelos arquitectos Vincenzo Brenna e Vasili Bazhenov, entre 1797 e 1801. O palácio tem uma aparência diferente em cada um dos lados, uma vez que os arquitectos usaram os motivos de vários estilos arquitectónicos, tais como o Classicismo francês, o Renascimento italiano e o Gótico. 

Atravessámos o Rio Fontanka pela Ponte Panteleymonovskiy para termos acesso às diferentes  fachadas que este Castelo tem e voltámos para trás para podermos percorrermos o Campo Mars onde está o jardim de Verão.




Campo de Mars (1924) - Marsovo Polye  é um grande parque em homenagem a Marte, o deus romano da guerra, situado no centro de São Petersburgo, com uma área de cerca de 9 hectares. Próximo ao Campo de Mars, a norte, estão o Palácio de Mármore, a Praça Suvorova e as casas de Ivan Betskoy e Mikhail Saltykov. A oeste está o Quartel do Regimento Pavlovsky. E a sul está o rio Moika.        

Daqui seguimos em direcção ao Palácio de Mármore nas margens do rio Neva.



Palácio de Mármore (1768-1785, Arq. António Rinaldi) -  localiza-se entre o Campo de Mars e o Cais do Palácio, a pouca distância, para leste, do Palácio de Inverno. Foi o primeiro palácio neoclássico da cidade.


Na outra margem do Rio Neva, avista-se a fortaleza de Pedro e Paulo, na Ilha das Lebres, onde está a Catedral Pedro e Paulo. E ela chegámos travessando o rio Neva pela Ponte Troitskiy.






































Fortaleza de Pedro e Paulo - Foi esta fortificação que deu origem à actual cidade. A sua construção foi feita por determinação do Czar Pedro, o Grande, com a finalidade de defender esta região dos ataques das tropas suecas, que dominavam o mar Báltico durante a Grande Guerra do Norte (1700 –1721). O centro do conjunto da antiga fortaleza é ocupado pela Catedral de São Pedro e São Paulo.

 


Catedral de S. Pedro e S. Paulo - catedral ortodoxa russa erguida entre 1712 e 1733 no centro da Fortaleza de São Pedro e São Paulo


Depois desta visita apanhamos o barco e fizemos um circuito pelos canais.





Terminado o passeio de barco, no cais junto à Praça do Palácio onde estão os diversos núcleos do museu Hermitage. Pudemos apreciar a sua amplitude. Saímos dela através do arco fronteiriço ao Palácio de Inverno. Percorremos essa pequena rua e o cansaço pesava. Num momento de repouso, descobrimos que aquela avenida que estava à nossa frente era a Avenida Nevski. 





Para terminar a jornada fomos visitar a igreja de Santo Isaac. O horário das visitas é ao final do dia. Esta opção proporciona uma visita serena e sem as habituais multidões.
No seu exterior impõe-se a cúpula de 21,8 metros de diâmetro banhada a ouro (cerca de 100Kg) suportada por um corpo de clássica e sóbria aparência com colunas e frontões de pedra.
No seu interior há uma sensação de amplitude e a decoração é profusa e em materiais muito diversos e qual deles o mais requintado. Desde as colunas em lápis-lázuli e de outras revestidas em malaquita, até aos diversos revestimentos em mármores.

                           

                            



Catedral de Santo Isaac - é a maior e mais sumptuosa catedral ortodoxa de São Petersburgo. A catedral, dedicada ao padroeiro de Pedro, o Grande, foi construída entre 1818 e 1858 em estilo maioritariamente  neoclássico e o seu Arquitecto foi Auguste Montferrand.


Os dourados ofuscam quando refletem a luz do sol. No exterior e no interior das catedrais e igrejas ele abunda. 
Tanta opulência em cenário histórico imperial remete para a quase inviabilidade de acontecimentos igualmente radicais daqueles que só serviam para os construir.
Passados os tempos desses grandes desequilíbrios hoje sente-se outro clima que aparenta trilhar caminhos de maior equidade.

No percurso pela Nevski, já era noite branca e, nos seus espaçosos passeios várias bandas rock instalavam os seus instrumentos e tocavam os seus repertórios. 
De regresso ao hotel surpresa das surpresas, andando pela Avenida Nevski, ao virar numa das suas esquina, ali estava o nosso hotel.