JUNHO
Os Fastos de Ovídio terminam com as referências às festas religiosas
realizadas em Junho, Iunius mensis, dedicada à deusa Juno da mitologia
romana e Hera na grega. Em Roma esposa de Júpiter e rainha dos deuses. Ela era a guardiã do casamento e do bem-estar de
todas as mulheres.
Mas se o mês anterior poderia ser dedicado aos maiores /Maius (aos
mais velhos), nada estranho que o mês de Junho tenha origem de iuniores /
Iunius (jovens). Segundo os romanos, o mês de Junho provém de iuvenis
- jovem. Outra hipótese refere-se ao verbo iungo (jungo), conjugação
latina; juntar, unir, reunir, pois foi neste mês que, depois de muitas guerras,
os romanos se juntaram aos sabinos após o rapto das sabinas, unindo-se numa só
nação. Nesta aceção, Junho viria do verbo iungere. Homenageava-se também
neste mês a deusa romana Vesta de caráter muito arcaico que presidia ao
fogo sagrado. Mantinha-o acesso e assim unia a alma da cidade e o ânimo dos
romanos.
Seja qual for a origem do nome deste mês, aqui estamos no meio da
representação do tempo anual onde, já sem deuses, se esvai a catarse pelo
desmoronar da tragédia. Ergue-se o drama do zénite como alvorada de próximo e
repetido envelhecer de mais um ano.
O espaço do que passou é igual ao que resta. Por isso, em Junho, é bom
prolongar os dias e não perder nenhuma gota das luzes que saciem as flores com
as águas perdidas de todas as lágrimas.
A glicínia alastra espalhando gaviões de vida e nos aromas dos seus lilases
cachos suspensos saem labaredas de energia que as abelhas recolhem.
- Olha que o teu olhar me faz tão bem, ramalhou efervescente. Fiquei
encantada com o seu reconhecimento e agradecida pelo bem-estar que me tem
dado.
Se escutarmos bem todas as plantas e flores imploram a nossa dádiva de água
e não temos como negar-lhes o prazer de nos reavivarmos mutuamente entrelaçando
assim as nossas efémeras vidas em amadurecimento.