Alguns exemplos da arquitectura contemporânea Japonesa
Tóquio
A actual cidade de Tóquio ressurgiu depois do violento terramoto
de 1923 e das sequelas das bombas incendiárias lançadas pela aviação americana
durante a segunda guerra mundial.
É neste contexto de destruição que surge um grupo de jovens
arquitectos que, fortemente influenciados pelo movimento moderno, deram forma à
reconstrução de Tóquio. Deste grupo faziam parte os arquitectos Kenzo Tange
(Prémio Pritzker,1987), Junio Sakokura e K. Mayokawa. Mais tarde kenzo Tange
afasta-se e passa a liderar uma segunda geração de arquitetos que rompe
definitivamente com a estética modernista. Com as cidades japonesas animadas
por dinâmicas construtivas surgem soluções inovadoras para os problemas que vão
aparecendo. É, possivelmente, neste processo que foram emergindo, em
praticamente todo o país, grupos de jovens arquitectos que, com grande
qualidade, marcam a sua presença em muitas das cidades japonesas.
Hoje Tóquio tem cerca de 13 milhões de habitantes. É aqui que
encontramos, no aglomerado da urbe, a arquitectura moderna e contemporânea entrelaçada
com apontamentos da tradição japonesa.
Quando deambulamos pelas ruas Shinjuku, Ginza, Setagaya, Hasakusa
ou Miniato arriscamo-nos a tropeçar num exemplar marcante da arquitectura
mundial. Basta descermos a avenida Omotesando para vermos aí reunidas obras
relevantes da arquitectura contemporânea japonesa:
- Cristian Dior building de Sejima & Nishizawa, cujas paredes
exteriores construídas em vidro transparente cobrem uma segunda película
interior de acrílico translúcido, proporcionam uma delicada e ambígua visão do
que estará para além da fachada;
- Omotesando Hill’s de Tadao Ando, que foi concluído em 2006,
depois de grande polémica, porque foi construído no lugar onde alguns
edifícios, em estilo Bauhaus, de habitação social edificados após o terramoto
de 1923 e sobrevivente dos bombardeamentos da segunda guerra mundial. No
entanto, Tadao Ando acabou por introduzir alguns princípios da “Bauhaus”. A
fachada com 258 metros é composta por painéis eletrónicos cujas imagens se vão
alternando continuamente;
- TOD’S Building de Toyo Ito, onde a transparência do vidro
intercala com uma subtil estrutura de betão;
- Norihiko Dan, com um bloco comercial (Boss), o edifício é
composto por uma estrutura com numerosas colunas em forma de folha, construídas
em betão armado e aço, cuja textura da madeira é dada pelo material da
confrangem. Ainda junto à avenida Omotesando, numa sua perpendicular, descobrimos o edifício da "Audi Forum Tokyo", projectado pelo CDI (Creative Designer International) dirigida por Hiroyuki Yoshikawa que acerca desta obra se referiu nos seguintes termos: "que a inspiração do desenho exterior foi baseada numa combinação de icebergs e uma garrafa de plástico depois de passar por uma trituradora de PET".
O impacto à chegada estação de Shibuya (ampliada por Tadao Ando em
2008) é enorme. Quando percorremos o seu interior cercados por multidões
silenciosas vão-nos surgindo imagens que nos conduzem para dentro uma ampla
nave espacial subterrânea.
Quando nos acercamos do bairro comercial e administrativo de
Shinjuku, deparamo-nos com a obra de kenzo Tange que se impõe com um conjunto
diversificado de edifícios, onde a sua monumentalidade é distintiva.
A Cocoon Tower que se localiza junto à movimentada estação de
Shinjuku é um arranha-céus metamorfoseado num verdadeiro campus universitário
na vertical, a torre alberga cerca de 10 mil estudantes de três escolas (Moda,
Informação e Tecnologia e Medicina). O designado Tokyo Metropolitan Government
Building é um complexo composto por três construções distintas aglutinadas por
ligações pedestres. A Shinjuku Park Tower, situada perto do Governo
Metropolitano é constituída por três torres, com 235m, 209 e 182m de altura,
que abrigam zonas comerciais, espaços habitacionais e nos pisos superiores o
luxuoso hotel Park Hyatt Tokyo onde foi rodado o filme “Lost In Translation”.
Em Waseda praticamente escondida no sítio de Sekigushi
encontrámos, com alguma dificuldade, uma obra interessantíssima de kenzo Tange,
“St. Mary’s Cathedral”. A Sé cristã de Tóquio foi finalizada em 1964,
substituindo a anterior, construída em madeira, de estilo gótico, que havia
sido consumida pelo fogo durante os bombardeamentos da cidade. O
actual edifício é revestido de aço inoxidável e, ao nível térreo, está assente
sobre blocos de pedra. O contraste entre os dois materiais, remete-nos para uma
sensação de leveza que é acentuada pela sugestão da imagem em forma pássaro com
asas assimétricas.
No distrito de Asakusa, na tranquila localidade de Sumida, a dupla
Sejima & Nishizawa desenhou o harmonioso museu que alberga a obra de Katsushika Hokusai, pintor do século
XVIII que influenciou decisivamente o movimento impressionista e
pós-impressionista.
O museu, com quatro andares, conta com um espaço de exposição
permanente onde se evidencia a relação do artista com o sítio. Os outros
espaços são dedicados a exposições temporárias, a livraria e a sala de leitura
e conferências. Quando a luz incide no seu revestimento metálico é revelado um
interessante jogo de planos, interrompidos por cortes angulares, que produzem
elegantes efeitos de luz e sombra, originados pela amplitude cromática das
tonalidades de cinza. Os rasgos triangulares da fachada permitem ainda a
entrada de luz natural para dentro das galerias e, ao mesmo tempo, estabelecem
uma ligação permanente entre o interior e o exterior.
De quase todos os locais de Sumida se avista a eminente Skytree
Tower, de Tadao Ando. Assente sobre uma base triangular, onde se desenrola uma
zona comercial, da qual surge o corpo em forma de tronco de cone que, com os
seus 601 metros de altura, confronta todo o território envolvente.
Quioto
Capital do Japão
por mais de mil anos. Durante esse período tornou-se a guardiã de muitos dos
melhores exemplos de artes, cultura, religião e pensamento japoneses. Quioto consagra
uma fantástica mistura arquitectónica, que vão dos arrojados edifícios públicos
e comerciais (museus e galerias de arte), até aos numerosos templos e
santuários tradicionais, classificados pela UNESCO.
À chegada à estação ferroviária de Quioto deparamo-nos com um
edifício de Koji Hara que, embora excessivo, evidencia o compromisso em fundir
a contenção da tradição e o ímpeto do presente. Esta premissa revela-se muito
presente na arquitectura contemporânea japonesa. A claridade que penetra
através da estrutura em aço e vidro da sua cobertura acentua o contraste entre
luz e sombra, revelando uma alusão clara aos shõji - painéis de correr com estruturas quadriculadas em madeira preenchidas
com papel translúcido. Encontrámos em diversos locais edifícios que
adotaram, de forma distinta, estas e outras soluções arquitectónicas baseadas
na tradição construtiva japonesa.
O edifício Niwaka, de Tadao Anto, acolhe a marca “Niwaka Jewlery”
e a moderna loja de artesanato “Kyoto design House”, onde são exibidas as obras
dos modernos artesãos que, seguindo a tradição artística japonesa, incorporam
técnicas e estilos contemporâneos. Também o projecto de arquitectura que
apresenta um traçado inovador preserva a estética envolvente do bairro, num
ambiente muito marcado por um sentimento de memória do passado.
Kamakura, Osaka, Nara, Himeji ou Kobe são cidades onde também se
pode encontrar arquitectura moderna e contemporânea de excelência.
Arquitectos japoneses
vencedores do prémio Pritzker:
Shigeru
Ban 2014,
Toyo Ito, 2013, Ryūe Nishizawa & Kazuyo Sejima, 2010,
Tadao Ando, 1995,
Fumihiko
Maki, 1993 e Kenzo Tange, 1987.