segunda-feira, 31 de agosto de 2009

instalação galeria do espaço 798 pequim

Uma das instalações do espaço 798

http://www.ucca.org.cn/

Inauguração da 1ª Bienal de Pequim

As intervenções que ocorreram durante a cerimónia de abertura da 1ª Bienal de Arte de Pequim quase que conseguiram transferir as atenções do palco para a assistência. Tudo coexistiu o que é um bom sintoma.

Será que a arte consegue tornar as pessoas mais "civilizadas" e cultas?...... e permitir que os opostas se encontrem para conseguirmos lidar com a diversidade e o contraditório. O verdadeiro encontro precisa do confronto........ se foi isso que aconteceu a 1ª Bienal de Pequim cumpriu uma missão muito importante.

sábado, 29 de agosto de 2009

Pequim e a velocidade das mudanças



Voltar a Pequim (bando dos três) - Depoimento 2

As permanências e a velocidade das mudanças
O nosso interesse canalizava-se agora para fruirmos o prazer de revisitarmos zonas e ruas de Pequim que havíamos visto, em 2006, e que, nessa altura, estavam com indícios de grandes modificações.
O impacto de uma primeira vez exige um esforço muito grande. Todos os sentidos são poucos para captar um sítio desconhecido, sobretudo em situações de múltipla e alta densidade. Voltar novamente a um sítio permite vivê-lo de uma forma mais repousada e, por isso, sentido e saboreá-lo com menos urgência.
Ver aquilo que nos escapou, poder descobrir o que se alterou, conseguir identificar o que permaneceu..... o prazer do reencontro.
Se em 2006 eram visíveis as convulsões que, entre outros factores, os jogos olímpicos de 2008 impulsionavam, agora em 2009, um ano depois dessa hiper-festa, o que tinha acontecido?
Sem pressas, a ideia é mesmo vaguear e deixarmo-nos surpreender pelo que nos fosse acontecendo.
Praça Tiananmen. A circulação de peões é tão controlada e condicionada como se de um espaço fechado se tratasse. Milhares de pessoas, como nós havíamos percepcionado antes, maioritariamente chineses. O turismo interno tem um peso que se sente por todos os locais turísticos. Atravessar a praça Tiananmen desde a fachada da Cidade Proibida, que suporta o imutável retrato de Mao, até à entrada do Quanmen Dajie fez-nos, agora, rever este percurso de uma forma menos emocionado que em 2006, mas bastante mais atenta a pormenores que tinham ficado submersos pelo impacto e a dimensão do sítio. Os tapumes dos espaços devolutos e em acelerada demolição, os restos de lojas que em 2006 constituíam aquela zona, estavam agora praticamente reconstituídos como de um cenário se tratasse. Algumas lojas tradicionais voltaram a ocupar os seus espaços e outras dão agora lugar às marcas da globalização.
Nas traseiras as coisas continuam muito em obras e a velha urbe de Pequim ainda ali pode ser cheirada e vivida. Loja de sedas, de sapatarias.... e muito mais. Tudo em grande quantidade e com muita gente. O tempo, a disponibilidade e o cansaço não nos permitiu explorar mais.
Nas deslocações entre diversas zonas da cidade verificámos que os edifícios novos se impunham. Embora não conseguíssemos localizar ao certo as novas construções, porque a densidade é muita e o horizonte sempre muito reduzido, devido à névoa que não nos deixa fixar alguns elementos de referência. Mesmo assim, com tanta coisa nova e ainda com muita remodelação em curso, soube bem encontrar recantos que já nos eram familiares, como por exemplo, as bancas de petiscos na Wangfujing Dajie. Os manjares exóticos e estranhos, para os nossos hábitos alimentares, continuam a constituir um desafio à coragem de provar um escorpião, uma centopeia ou mesmo uma gorda larva que, com um óptimo aspecto, são impecavelmente exibidas nas bancas dos imensos quiosques.
Reencontrámos também os velhos mercados que, embora bastante remodelados, mantêm o ambiente do saboroso regateio dos preços e das estratégias de sedução associadas à sábia arte de vender. Tudo isto a par de grandes e novos espaços comerciais onde se podem encontrar todas as grandes “marcas”. A contrafacção não desiste e continua a ter o seu público. Quase ninguém resiste a ter um relógio ou carteira daquelas marcas que todos já ouvimos falar e que, apesar de não ser original, é comprada na origem.
Entretanto não conseguimos reencontrar alguns sítios que nos ficaram na memória em 2006. Será que já não existem ou simplesmente o acaso deles nos desviou?
Entretanto o Ninho de Pássaro (estádio olímpico) estava com fila para se comprar o bilhete para entrar e até havia bilhetes na "candonga" para os impacientes que não quisessem estar na fila.
É bom voltar e nunca ver tudo, alimentar o desejo de que ainda ficam muitas coisas capazes de nos surpreender.
Até sempre China!
Até breve Mongólia e Rússia!
Saudades da paisagem a fugir pela janela do comboio e do seu balançar.
Havemos de voltar, quanto mais não seja em sonhos, porque agora o real já os alimenta e as imagens e emoções já não são as emprestadas.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

1ª Bienal de Pequim








Bando dos três

Voltar a Pequim - Depoimento 1
A Cidade Proibida, o Palácio do Céu ou o de Inverno, os jardins e lagos já não fazim parte das prioridades do programa para parte do grupo.
Em 2006 tinham sido infrutiferas as tentativas para encontrar e conhecer os trabalhos e pesquisas actuais dos artístas chineses no campo da produção plástica/visual. Nos museus e nos espaços institucionais os estilos apresentados consistiam na tradição: caligrafia, paisagem e moderno, este estilo também designado por "Picasso style". Em 2006 acabámos por comprar um exemplar do "Picasso Style" porque vimos nele o valor de um documento histórico, um testemunho de um tempo, certamente transitório, de como a China, com uma distância de quase um século interpreta e "mastiga" a produção dos movimentos artísticos e estéticos produzidos no Ocidente. Alguns dos movimentos, que estão na origem do "Picasso style" chinês, tiveram como fonte inspiradora e geradora de grandes roturas a "descoberta" da arte Africana e dos Orientes. Nesse momento o movimento parecia percorrer o caminho inverso. Troca de olhares, ora de lá para cá, ora de cá para lá. Tudo isto com tanto tempo pelo meio e tantas epopeias políticas e ideológicas que marcaram o século XX. O olhar do Outro que nos devolve-nos parte de nós.
Desta vez iamos determinados a fugir das ofertas e atrações turísticas oficiais e mais standarizadas e a encontar o que ainda parece ser de certa forma marginal.
O Time Out, levado de Lisboa, dava pistas sobre espaços e galerias que não se encontram assinaladas nos folhetos informativos dirigidos aos turistas. Através da informação da Art-Agenda e do "e-Flux " alguma coisa também foi ficando registada. O guia da Michelin também tinha pistas. Depois de uma tentativa de inventário pareceu-nos que, para o primeiro dia em Pequim, o 798 Art District seria o ideal para começar pois tinha, ali concentradas, diversas galerias e ateliers. Deixariamos para depois as galerias dispersas pela imensa cidade.
A recepção do nosso hotel desconhecia o que pretendiamos ver e, por isso, em caractéres chineses, escreveu algo que o motorista do taxi não entendeu. Foi com a ajuda do mapa que conseguimos indicar, mais ou menos, a zona para onde queriamos ir. O taxi deixou-nos nas imediações, provávelmente porque também ele desconhecia exactamente o que pretendiamos.
Saímos do taxi, olhámos à volta e nada nos indicava onde estava Dashanzi 798 Art District.
Num beco havia um pequeno mercado, bisbilhotámos à procura de leques porque, apesar de serem 9,30h o calor já atormentava. A oferta é cada vez mais plastificada e identica às toneladas de chinesices que são colocadas nas lojas que estão em qualquer parte dos Ocidentes. Essa plastificação certamente tem contribuido para o merecido crescimento económico do persistente povo chinês, mas tem causado a desvalorização da utilização de materiais locais a que tão habilmente conseguiam acrescentar funcionalidade e requinte, esperemos que, com rentabilidade, esses materiais sejam recuperados. O caso dos simples leques demonstra isso. Sem leques saímos do beco e voltámos à avenida na tentativa de descobrirmos uma indicação do que procuravamos ou aparecer alguém mais jovem que soubesse algumas palavras de inglês que pudesse compreender para onde queriamos ir.
Por sorte, um casal de jovens que nos entendeu e que conhece o que queremos. Somos convidados a acompanhá-los e deixaram-nos mesmo quase à porta do que pretendemos - Dashanzi 798 Art District. Lindos meninos que nos ajudaram e foram tão simpáticos e pretáveis!
A surpresa do primeiro dia de retorno a Pequim
Aquilo que pensavamos que nos iria ocupar até à hora do almoço preencheu todo este primeiro dia e grande parte do dia seguinte.
Na entrada dois placares, um com a planta do espaço e outro com uma listagem das galerias, atelieres, serviços e lojas diversas. Percebemos que seria grande. Entrámos numa primeira galeria, fotografias em torno da temática dos cavalos. Deambulámos deixamo-nos conduzir por onde um cartaz sugestivo conseguia captar a nossa atenção. Tentámos obter uma planta mais promonorizada, encontrar o local das informações, mas nada. A pouco e pouco fomos descobrindo as galerias e lojas que surgiam pelas ruas quadriculadas.....e aquilo parecia não ter fim à vista. Zona de cerâmica, onde o tradicional domínio destas técnicas e materiais, nos seduzem com as pesquisas de novas formas e texturas.... roupa, sapatos, que se diferenciam e demonstram que está vivo o potencial de pesquisa e de inovação que, até aqui, não tinhamos conseguido descobrir. As circunstâncias que envolvem este povo, a sua cultura e mentalidade começa a tornar visível a sua forma de interpelar e interpretar o hoje na sua relação consigo próprios e com o mundo.
Aviso
Vamos ver se consiguimos travar os impectos eurocentricos que, de tão entranhados que estão, nos atraiçoam a vontade de olhar o(s) outro(s) de igual para igual..... estando atentos às suas diferenças, não como manifestações de atraso ou "piroseira", mas como fonte e possibilidade de nos fazer reflectir sobre as suas características, origens e consequências. O aviso está feito, por isso, estejam atentos e seja implacáveis na sua denuncia!
Que experiência vivemos no 798 Art District
A ironia mais ou menos implícita ou explícita às circunstâncias do passado mais ou menos recente da China, nomeadamente à revolução cultural e à figura de Mao Tse Tong tem traduções plásticas que inscrevem o seu questionamento e materializam a emergência de preplexidades que a releitura desse passado provoca à medida que um presente cada vez mais impregnado das incertezas de um devir que inevitavelmente se cruza com exteriores, se calhar ao mesmo tempo estranhos e sedutores, se vão entranhando num território que, nos últimos 60 anos, construiu uma mentalidade tendencialmente univoca e de convergência induzida por métodos e técnicas percursores do markting mais actual.
Mao construiu-se como um ícone e, tal como os ícones religiosos, ficam desvinculados de actos menos dignos, emaculados e desmaterializados numa atmosfera de fé.
Como meros espectadores e muito pouco conhecedores do que se passa apenas nos atrevemos a lançar algumas questões:
O estado da arte fora do Estado? Ou como o Estado percepciona e integra as oportonidades do mercado da arte?
A produção artística como expressão das (im)possibilidades e desejos se de cruzar com o Outro diferente? O papel da arte na construção da identidade possibilitando as materialações das simbioses que, reafirmando afinidades, façam emergir as diferenças? Apresentações e representações dos estados dos Mundos que constituiem os Universos humanos?
Hora de almoço, descançar as pernas e aliviar o calor. Locais aprazíveis, para o nosso gosto, não falatavam. Almoçámos num local que é livraria e restaurante. Junto à nossa mesa um escaparate com revistas de arte. Enquanto o almoço não chega folheamos ao acaso algumas. A Contemporary Art - www.artnows.com - de Agosto de 2008 (nº 8) tinha um artigo (mais ou menos bilingue, que nos esclareceu sobre a origem deste Dashanzi 798 Art District. Antiga fábrica de armamento, construída no início dos anos cinquenta, com arquitectura modernista. Desativada e afectada às actividades artísticas em 2002 com "Beijing Afloat".
Começámos a ter uma noção mais aproximada do sítio, da sua dimensão e a perceber as intervenções de adaptação e requalificação que tinhamos presenciado em muitos dos espaços já visitados. Tudo isto não seria possível se, de facto, não existisse à longo tempo um potencial que o tivesse feito vingar (para que o mesmo pudesse ter sido afectado para este efeito) e garantisse a grande e diversa ocupação/recuperação que neste momento evidência.
A surpresa das surpresas
Mas, a maior surpresa estava ainda para chegar. Alguns ainda poucos cartazes e faixas colocados nesse próprio dia, durante o tempo que deambulámos, anunciavam a 1ª Bienal de arte de Pequim "798 Beijing Biennale 2009" com a designação genérica de Constellations - www.beijing798biennale.com.cn .
Ainda surpresos do anúncio de tal evento deparámo-nos, junto a um grande portão, com um ajuntamento de jovens que ostentavam identificação de voluntários da organização. Estavamos na entrada do espaço principal da bienal que iria ser inaugurada precisamente naquele dia, 15 de Agosto de 2009.
Perguntámos quando abria e por onde se entrava. Como não tinhamos convite, nem estavamos na lista dos artístas, dos críticos de arte ou jornalistas, então teriamos de comprar o bilhete, mas isso só às 17 horas.
Fomos fazer tempo, ver outras galerias e lojas. À hora indicada dirigimo-nos para o local. No palco estava um friso de personalidades que, a nossa ignorância impede de enunciar. Presumimos que o ou um dos responsáveis pelo evento, que falava em inglês e era traduzido para chinês por uma discreta menina, estava vestido de forma bastante diferente do resto dos presentes no palco. Uma espécie de farda de intelectual em voga no "mundo ocidental", onde o preto dominava, davam-lhe um ar de "artísta" que contrastava com a indomentária dos restantes, (embora sem gravata e sem casaco, uma camisa branca e umas calças bem vincadas ) muito próxima dos códigos dos técnicos superiores e políticos em situações mais informais. Um deles era o Ministro da Cultura.
O borburinho da assistência e a entrada em cena, no seio do público, de um performers foi impossibilitando a audição do que os diversos intervenientes iam dizendo ou fazendo no palco. Primeiro uma figura vestida de catedrático balbuciáva uns grunhidos amplificádos através de megafone, com pose de detentor de verdades absolutas e certezas inabaláveis, conseguiu que, grande parte dos presentes nele concentrasse a sua atenção e máquinas fotográficas, imprensa incluída.
Não tinham passado uns curtos minutos, e antes que a atenção do público pudesse ser recuperada pelos que estavam no palco, da extremidade oposta do largo, surge em passos muito lentos, um casal composto por uma personagem vestida de noiva de braço dado com uma figura que exibia na cabeça, tronco e membros, rectângulos de metal que espelhavam o que lhe aparecia pela frente. Enquanto uns ainda estavam atentos aos grunhidos e gestos do personagem catedrático, a pouco e pouco este par começou a centrar em si as atenções. Na sua marcha lenta encaminhando-se para o meio da assistência até ocuparem a parte fronteiriça ao palco e, mesmo em absloluto silêncio, provocou que um número significativo da assistência ficasse completamente de costa para as personalidades que, no meio de tão pouca atenção, levavam a cabo a cerimónia de inauguração. Este par de "noivos" entretanto continuria o seu percurso até chegar ao palco e integraram-se no decorrer da cermónia. Fica a dúvida se estariam no programa oficial ou se também faziam parte daquilo que nos pareceu uma espécie de "contra programa". Ainda o impacto desta segunda intervenção estava no seu auge, alguém atirou, o que nos pareceu, uma garrafa de água para o palco. Uns viram, outros não, porque a rapidissima e discreta segurança fez desaparecer o, ou os presumíveis autores, ou ainda eles conseguiram dissimular-se na multidão. No meio de tudo isto, a cerimónia continoou, sendo visível a tentativa de todos os que estavam no palco de não deixar transparecer sinais de nervosismo. Falava um senhor, dos de manga de camisa branca, seria talvez o Ministro da Cultura....? Acho que ninguém ainda estava disponível para desviar a atenção dos performers, por isso, quase de certeza ninguém o ouviu. Entretanto o primeiro orador voltou à boca de cena com a intenção de apresentar cada um dos presentes, o que deveria merecer da assistência alguns aplausos. Isso aconteceu, creio que aos dois primeiros, porque a patir daí, com a entrada em cena, novamente no seio da assistência, de um terceiro performer , este figurando um vendedor ambulante que ruidosamente conseguiu transferir novamente a atenção do que acontecia no palco para aquilo que devia ser a assistência e obrigar os actores/protagonistas a tornarem-se espectadores.
Para além do catalogo da Bienal, comprámos um livro de Jérôme Sans, "China Talks, Interviews With 32 Contemporany Artists", bem ilustrado com com entrevistas aos 32 autores seleccionados.
Visto o espaço principal da bienal tinha chegado a hora de fechar e desconheciamos ainda onde ficariam os restantes núcleos. Assunto para descobrir no dia seguinte.
Estavamos exaustos. Um café.....e decidir reservar, pelo menos, a manhã do dia seguinte para os restantes núcleos da Bienal. Assim fizemos. No dia seguinte, deslindado o mistério da sua localização, percorremos os restantes núcleos da Bienal. Cada um dos núcleos, com um comissário e com artístas de diferentes origens. De assinalar a presença da América do Sul: Colombia, Peru, Chile, Honduras, Argentina, Brasil, Uruguay, Venezuela, México, presente nas escolhas de dois dos núcleos: "The Man Who Fell To Earth" do curador Raúl Zamadio e "Turn on, Tune in, Drop Out" do curador Nicoykatiushka. Assinala-se ainda "Transitional Aesthetics" do curador Alexandra Loewenstein e de Jaishri Abichandani, outro núcleo com a designação de "Non-reality" do curador Zhu Qi e "Searching for Broken Memory" do curador He Meiyan e ainda "Annexe/Infix" do curador Martin Wehmer.
No final desta jornada concordámos que já não restava disponibilidade para procurar as galerias que haviamos assinado e que finalmente tinhamos conseguido localizar através de um "RedBox Art Guide Beijing" - www.redboxstudio.cn - que encontrámos e compramos numa das livrarias. As distâncias e o calor são obstáculos, que nesta altura da viagem, se tornam pesados. Fica para a próxima!
Era agora o tempo de voltar a vaguear pela cidade de Pequim!
Esse relato ficará para o depoimento 2 do grupo dos três.