OUTUBRO
Outubro veio simplesmente de October
(oitavo mês, de octo).
Em Outubro aqui tudo começa a arrefecer e abre as portas ao Outono. As
folhagens caducas anunciam a sua já próxima jornada de amadurecimento. Umas
seguem lentamente o caminho até ao ofuscante amarelo outras seguem daí até ao
castanho, outras ainda cavalgam para o carmim e assim rubras se irão acastanhar
também.
No Verão as árvores caducas vestem-se de verdes frescos e no Outono
aconchegam-se de tons quentes antes de chegar a hora de adormecerem e ficarem
nuas. As folhagens resistirão ao vento por mais algum tempo, mas sabem que a
terra as espera como vestes criadoras num ciclo misterioso.
Nos lagares mosto fermenta e alcooliza-se em néctares dos deuses e, em
breve, terá o poder embriagante das musas perdidas nos mares. Delas nem sinais
neste cabo abandonado. Volta o silêncio do esquecimento nas ruas desertas e as
ervas daninhas abrigadas do excesso de sol saiam da hibernação e começam a
despontar, entre as pedras da calçada, abençoadas pela frescura da terra, qual
aveludado tapete verde erva.
Os búzios vazios secam no alpendre e guardam os uivos das tempestades
que se aproximam. As ondas já ecoam e invadem todo o cabo. As dunas começam a
ser novamente esculpidas pelas nortadas.
O outono dos ciclos prepara-nos para o da vida.
É por isso importante escutar as entranhas do mês de Outubro, deixá-lo
repousar-se e abrigar-se em nós como gruta protetora de mendigo.
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