DEZEMBRO
Dezembro de December (décimo
mês, de decem).
Os campos cheiram a humos que renascem dos despojos que vestiam as
árvores cujas hastes nuas, recortando o horizonte, se erguem em preces como
esqueletos à espera de nova personagem. Se as olharmos deitados no chão entre
nós e o céu fica um teto feito de rede negra que nos aprisiona.
Os jarros, flores solitárias, também chamadas “lírios da paz”,
despertaram e romperam a terra com o seu caule e folhagens verdes lisas. No seu
cume desabrochará, alva em leque fechado, copo pontiagudo e macio uma espécie
de representação da virtude aberta para o céu protegendo a perfeição fálica do
amarelo sol que despertará no início do próximo ano. Apetece perguntar porque
regressam as suas folhagens quando o sol deixa de queimar e aguardam a floração
para quando o sol começa a deixar de ser tão raro.
Hirtos e mudos os jarros, ainda sem flor, vociferam: - Nós trazemos
pedaços de sol das entranhas da terra em mudas melodias tóxicas que representam
a paz.
- Porque é que a planta que simboliza a paz é tóxica? Questiona
intrigado o inocente pardal.
- É para se defender dos predadores. Responde a astuta lagartixa
dissimulada entre folhas e pedras que se confundem com a sua cor.
Porque se a paz não é só a ausência de guerras, devemos aos mais novos
a aprendizagem de viver os conflitos em harmonização o que, em parte, está na
natureza do jarro.
Em Dezembro, o derradeiro mês do calendário que marca o tamanho do espaço da dança da terra em redor do sol, quando tudo parece mais sombrio e adormecido, é o tempo de procurarmos o nosso oculto sol nos humos dos despojos da existência pretérita.
Tomemos como avisada a existência contraditória do “lírio da paz” pois
somos semente e fruto de um imenso mistério.
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