Camboja, numa caixinha
Camboja, vindo do vizinho e tão diferente Laos.
Primeiras impressões
Do avião: paisagem em quadrícula, com o que parecem lagos
traçados a régua, arvoredo disperso, as reconhecíveis palmeiras, arrozais ou
zonas alagadas.
Sai-se do aeroporto e a avenida que nos conduz ao hotel, em
Siam Reap, a Airport Road, é a de uma grande cidade: hotéis, restaurantes,
supermercados, trânsito organizado. Os tuk tuks parecem ter outra consistência
e conforto do que no país que deixáramos.
No hotel, um enxame de empregados rodeiam-nos com pequenas
toalhas geladas servidas à pinça, bebidas de acolhimento, ofertas e pedidos a
que ninguém sabe ainda dar resposta, tudo é demasiado recente, demasiado
insistente.
Dinheiro
Primeira surpresa para o turista desprevenido: dizem-nos que
devemos pagar tudo em dólares! Não os tendo, devemos levantá-los no MB, ou
trocar os euros que levamos. Trocar dinheiro para a moeda nacional, o riel, é inflacionar e infernizar a vida.
Sorriso
Paul Theroux fala do sorriso esfíngico das cambojanos, à
semelhança do das estátuas khmers, um sorriso que torna opaca a visibilidade da
emoção sentida, da experiência vivida...
Siam Reap
Passeamos de
noite em Siam Reap em euforia, porque a cidade assim se oferece, em cores e
néons, do suk às lojas sofisticadas. Admiramos
os edifícios de influência francesa, chinesa, art-déco, tradicionais...
Uma cidade
para o turista: hotéis, restaurantes, casas de massagem, lojas e bancas de
comida... uns atrás dos outros. E preços quase europeus para muitos produtos...
Os templos de Angkor
O que faz correr
as pessoas para Siam Reap é tudo o que o viajante sabe ou intui.Os templos de Angkor.
De cair de joelhos e agradecer a Naga que nos fez aqui chegar.
(Tentar abstrair das dezenas de pessoas a fazer selfies à frente de tudo o que se quer ver com calma...).
Phnom Penh
Cidade fervilhante e de grandes contrastes. A zona
ribeirinha, cheia de cafés e restaurantes. O Mekong. Os mercados tradicionais e
o Mercado Central com o seu edifício art Déco. As ruas cheias de motos e motos,
e tuk tuks, e pessoas, de famílias a viverem nelas, e um contínuo no tempo e
espaço de tendas e carrinhos de comida.Os cheiros. A zona das embaixadas de
avenidas largas. As marcas dos tempos recentes no meio do quotidiano: a prisão de
Tuol Sleng dos anos 70, um antigo liceu e museu do genocídio. A zona e os
edifícios do palácio real. Os templos.
O corpo continua a ressentir-se da mistura de calor,
humidade e dos gélidos ares condicionados, mas o espírito da cidade aguça-nos o
apetite de ver e conhecer, a energia é outra.
Gostamos de
visitar (e de comprar algumas coisas em)
os Artisans d’Angkor, projecto
co-financiado pela UE de valorização e promoção dos artesãos e artes
tradicionais.
Sabemos aí
que o ordenado mensal de uma enfermeira é de 50 USD e o de um professor de 60
USD, e que tudo falta nas escola....
Comparamos
os valores ditos com o preço inicialmente pedido no hotel pela lavagem de uma
camisa: 4USD...
Gostamos também de nos sentar no FCC, no Foreign
Correspondent Club, e de jantar num restaurante aconselhado por uma australiana
que regressa periodicamente à cidade “for the fun”, onde comemos pela primeira
vez um peixe inteiro cozido a vapor, fresquíssimo e saboroso. Os donos são uns
dos poucos idosos com que contactámos! Falam Francês, é “o velho mundo”.
Pensamos no
passado, esquecemos o presente....
O taxista
que nos conduz no final ao aeroporto faz-nos recordá-lo: a impossibilidade de
escolher quem governa, a construção de condomínios de luxo e a deslocação
forçada de pessoas, os ordenados baixíssimos, a repressão...
Jovens... e velhos
Jovens,
jovens... em todos o lado. Como no Laos. É impressionante. Raramente um idoso
(a expectativa de vida só a partir de 2000 ultrapassou os 50 anos, e, depois,
há a(s) guerra(s) recente).
Mas muitos velhos
europeus com jovens apsarás...
Algumas notas
1 Aconselha-se a viagem Laos / Camboja em Novembro,
ou Dezembro... e moderação nos percursos e circuitos. O grupo de “séniores” que
fez a viagem em Outubro teve, por vezes, dificuldades com a mistura de grande
calor, humidade, ares condicionados e ambicioso plano de viagem...2 Regatear, regatear: do tuk tuk ao tour organizado, da lavagem de roupa no hotel à massagem, do objecto ao trapo..... e, mesmo assim, raramente se chega à conclusão de se estar a pagar o preço devido...
3 Foram-nos úteis os guias de viagem que consultávamos amiúde.
4 Leitura extra feita: Combóio Fantasma para o Oriente, Paul Theroux, ed. Quetzal
t.
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