segunda-feira, 10 de junho de 2019

Viagens e leituras



Nikolai Gogol

Durante a viagem de avião fomos lendo a “Avenida Nevski” de Nikolai Gogol. Quem dá voz à voz de um autor é a voz de cada leitor que com ele se cruza. 
Essa é a ressonância das palavras em transumância.

Viajar é como ler um livro e, ler um livro é como viajar. Retira-se da viagem, tal como de um livro, aquilo que faz sentido com o mundo de cada um. Retira-se de um livro mais ou menos conforme nos deixamos entrar nele e isso tudo nos transborda para dentro do que em nós já está a amadurecer. Na viagem também se retira mais ou menos conforme acolhemos mais ou menos os pólens do que nos é alheio e estranho.

Na viagem que fazemos num livro, uma parte significativa, pode facilmente ser determinada pelo seu autor se ficarmos prisioneiros nos seus enredos. Mas, se nos deixarmos ensopar por aquilo que nele desemboca no fundo de nós aí nasce o nosso sentido. Essa é a nossa viagem naquele livro.

Na viagem o viajante tem de se disponibilizar para dar espaço a uma simbiose entre ser o autor de uma narrativa e o seu leitor. Desafiar-se a perder-se e a reencontrar-se, enovelando-se sem que a meada em nó cego em nós se embarace. Abrir brechas na nossa caverna e questionar as nossas certezas.

É um desafio que facilmente pode ser ofuscado pelo fascínio de cenários luxuosos, enredos e histórias de cordel…. 


Viajar é preciso porque o mundo é uma esFERA!

IRS

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