quarta-feira, 8 de novembro de 2023

México - Em torno de Valladolid

 2 - Em torno de Valladolid: Chichén-Itzá, cenote Ik Kil

Chichén-Itzá fica a cerca de 45 Km de Valladolid.

Considerando a dimensão e diversidade de funções dos edificados, este deverá ter sido um dos polos urbanos mais importantes dos Maias nesta planície do norte. Os vários estilos arquitectónicos testemunham as camadas de tempo dessa ocupação com início em 600-900 (período clássico) até 900-1200 (período pós-clássico).


Chichén-Itzá terá sido abandonada em 670 d.C. e reconstruída três séculos depois, altura em que se tornou na mais importante cidade do nordeste do Yucatán e no epicentro da cultura Maia, centro financeiro e das rotas de comércio de mercadorias – uma ascensão relacionada com o declínio de outros centros regionais nas planícies do sul do Yucatán. Para isso terá contribuído o facto de, após a região ser tomada pelos Itzá – um povo de forte tradição militar - ter sido estabelecido um sistema de tributação que gerava riqueza para a região, facilitando o seu desenvolvimento.


Nestas terras planas a profusão da vegetação impõe-se como horizonte mas, ao entrarmos no complexo de Chichén-Itzá desembocamos num amplo espaço onde emerge o imponente volume da pirâmide de Kukulcán. Dedicada ao deus com o mesmo nome e que em Maia significa serpente emplumada. 

Podem ainda ser percorridos o campo do jogo da bola, o templo dos guerreiros onde se faziam cerimónias de sacrifícios humanos, a Praça das mil colunas que seria uma zona de mercado e Observatório astrológico ou templo de El Caracol.






Este primeiro impacto com a antiguidade da civilização Maia despertou-me o apetite para rever as dimensões da linha do tempo geológico e as da espécie humana.


Do íntimo da densidade das florestas se vão resgatando as ruínas que nos confrontam com amontoados de mundos desmoronados, volumes esvaziados cheios de tempo e compactos empilhamentos cujo vértice aproxima de supra mundos desconhecidos. 

Assim, frente ao tempo, mergulhamos num cruzamento de sentidos onde a imaginação ganha asas como uma “cobra emplumada”.

Perante a dimensão da pirâmide de Kukulcán, ou dentro das ruínas de sacrificiais ritos ou, por entre as plataformas do “tribunal” onde se decidia a sentença num jogo com bola, emanam desafiantes interrogações sobre os rostos, as mãos e os pensamentos que deram forma aos enigmas que nelas guardaram. 

Frente à imponência da pirâmide, a linha do tempo parece que se revela no olhar das iguanas que nos fitam e dão a ver desde a fractura da Pangea (130 milhões de anos) até à evolução da espécie humana (300 mil anos em África) e sua distribuição pelas superfícies em separação dos continentes. 





Somos apenas os resultados destes tantos passados que vamos desenterrando e mergulhando nas ondas da imaginação e nos voos do anacronismo. 


“A história da arte está sempre por recomeçar. Cada novo sintoma reconduz-nos à origem” (Georges Didi-Huberman).


cenote Ik Kil

No final deste dia fomos usufruir da frescura de outro cenote. Locais mágicos onde, na nossa imaginação, se sente a simbiose do “infra-mundo com o supra-mundo”.




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