Viagem em
2013-Relato II
Ainda em
Sines
Um passeio
por caminhos mais laterais, sem sinalização e afastado dos acessos às praias.
Atrás das
catedrais metálicas onde se transforma o outo negro das guerras e que faz andar
o mundo, incógnita na paisagem, irrompem as ruínas tímidas de uma casa.
O seu abandonado
inunda-nos. Restos de arestas, encontro de paredes incompletas que gemem no
silêncio e arrepiam tanto. Pressente-te a ausência, pressente-se o vazio,
pressente-se não haver futuro. É uma avalanche de passado, um cabouco em
construção para acolher o que caminha para acabar. Pelo que resta das janelas escorrem
os olhares ausentes, os sorrisos e as lágrimas invisíveis de vidas que
agora as inundam de nada.
Mais um verão em que o sol as esmaga de luz, calor e solidão.
São ruínas de circuitos anónimos que pronunciam o destino de todas as respirações. Cada uma delas povoa a paisagem como um monumento que, na planície ou nas dunas, neste cabo do Alentejo litoral, comemora vidas.
Há algumas paredes nuas e abertas ao céu, outras ainda suportam o telhado. Ao fim da tarde há um hálito carregado de negro que configura as ausências das janelas e portas. Quando as fixamos são como olhos cegos que nos fixam e interrogam e, pela porta, podemos ver o hálito dos seus gritos.
Mais um verão em que o sol as esmaga de luz, calor e solidão.
São ruínas de circuitos anónimos que pronunciam o destino de todas as respirações. Cada uma delas povoa a paisagem como um monumento que, na planície ou nas dunas, neste cabo do Alentejo litoral, comemora vidas.
Há algumas paredes nuas e abertas ao céu, outras ainda suportam o telhado. Ao fim da tarde há um hálito carregado de negro que configura as ausências das janelas e portas. Quando as fixamos são como olhos cegos que nos fixam e interrogam e, pela porta, podemos ver o hálito dos seus gritos.
Atrás das
ruínas, o cenário meio encoberto pelo movimento acidentado dos terrenos, as
torres das catedrais metálicas uivam e brilham.
Ficar atento
é testemunhar e enfrentar o destino de todas as coisas que, pela rotina,
achamos que o são para sempre.
Uma abelha pousa numa flor e esta treme e baloiça com este contacto. A flor vive nas ruínas e a abelha visita-a enquanto existir. Outras flores e outras abelhas virão e as ruínas continuarão o seu processo de dissolução até que já nenhum olhar as possa aprisionar. Acabarão assim lentamente o seu dever de testemunhar.
Virão as estações húmidas e frias e com elas o desmoronar dos vestígios dos tempos que queimam e apagam todos os abrigos humanos.
Uma abelha pousa numa flor e esta treme e baloiça com este contacto. A flor vive nas ruínas e a abelha visita-a enquanto existir. Outras flores e outras abelhas virão e as ruínas continuarão o seu processo de dissolução até que já nenhum olhar as possa aprisionar. Acabarão assim lentamente o seu dever de testemunhar.
Virão as estações húmidas e frias e com elas o desmoronar dos vestígios dos tempos que queimam e apagam todos os abrigos humanos.
Regresso a
casa acalmando o olhar no mar, muro aberto e sem sinais aparentes de
dissolução. Entro na estrada de terra batida onde eras e canaviais começam a
engolir outras casas vazias. De seguida surgem os arcos do meu abrigo, do meu
beco, da minha rua, do nosso lugar minúsculo universo no mundo imenso. Somos
uma origem e essa está sempre no nosso destino.
Quem será
que algum dia, numa qualquer viagem, testemunhará esta casa vazia e em ruínas.
A casa ouviu-me e interroga-me: Que ânsia de progresso te desobriga do passado,
te liberta de locais de memórias e te impulsiona para, um dia, me abandonares?
Agastada
repliquei-lhe: E porque teremos de nos sentir prisioneiros de paredes que só
fazem sentido quando alguém lho atribui.
- Tu é que
levantas-te a questão…. eu, por mim, não tenho esses problemas. Esclareceu com
ar irónico.
Ficar atento
é ser.
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