quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Última etapa do transmongol


De Ulaanbaatar a Pequim

7horas da manhã tudo a postos à porta do hotel. Já lá estava o nosso frenético condutor que nos tinha acompanhado nos últimos três dias. Refeito da avaria no sistema de mudanças, que nos ia deixando empanados no meio do nada, tudo limpinho (a carrinha e o condutor) e com o parafuso da caixa de velocidades devidamente reposto para aguentar o seu estilo de condução. Com alguma perícia são arrumados os nossos 14 volumes: 7 pessoas e 7 malas, algumas delas quase do tamanho de frigorificos.

Cais da Estação, cheio de turistas a caminho de Pequim. Neste percurso todo, desde Moscovo, era a primeira vez que a maioria dos passageiros eram turistas. Chamou-nos a atenção um grupo muito interessante composto por um casal com 4 crianças entre, talvez os 7 e 12 anos, cada um com a sua mala, mochila e belas botas de caminhar e o comportamento impecável daquelas crianças fez-me pensar quão diferente poderia ser este grupo se fossem portugueses:

-Anda cá não vás para a linha; -Está quieto; -Não saias daqui; -Estás aqui estás a levar, etc., etc.

No comboio tivemos como vizinhos um grupo de 3 rapazes mexicanos (que esperamos não nos tenham deixado a gripe). O que dormiu na nossa cabine era advogado e ia fazer uma especialização em direito maritimo na Suécia. Nascido no México, mãe dinamarquesa, e pais a viver em Hanoi, falava 5 línguas e tinha estado recentemente em Lisboa para assistir à "boda" de um amigo mexicano que casou com uma portuguesa.

E começou o deserto de Gobi e, com ele o calor e o pó que einvadiu o comboio. Não é um deserto de dunas, pelo menos na zona em que o comboio o atravessa, mas uma imensa planura desoladora onde aos poucos a erva se vai tornando cada vez mais rara assim como os Guirs e os rebanhos e manadas. Não é de admirar que seja reduzida a população deste país imenso, pois que nestas paragens a sobrevivência é quase impossível, apesar do pouco exigente modo de vida dos nómadas.

Eis que chegou a burocracia da fronteira: preencher impressos; entregar passaportes; medir a febre; receber passaportes e revista às cabines. Chegada à fronteira da China. Entrada triunfal na estação ao som de uma marcha militar e as luzes da estação acendendo-se à medida que o comboio avançava. Depois, manobras e mais manobras, comboio para a frente, comboio para trás e entrada num grande hangar para a operação de mudança de chassis. Na China a dimensão entre carris é diferente daí a necessidade desta operação que demorou cerca de 1 hora. No hangar uma enorme quantidade de macacos já dispostos dos dois lados da linha elevaram lentamente as carroagens, que haviam sido separadas, e é feita a separação e reposição do novo rodado, tudo isto à mistura com muitos barulhos, solavancos, encontrões no comboio e com as casas de banho fechadas, estas desde que haviamos entrado na fronteira, ou seja, já lá iam umas 4 horas. Vem a propósito referir que durante toda a viagem antes de chegarmos a uma estação os sanitários eram fechados, pois que o produto das sanitas sai directamente para a linha.

Finalmente o volta à estação e passadas todas estas horas fechados deran-nos autorização para sair das carroagens. Tudo a correr para as casas de banho da estação e para o mini-super que existia. Caixa ATM para obter moeda local....nada. Juntar os euros ainda disponíveis e comprar pelo menos uma cervejinhas.

Finalmente o comboio parte e vamos dormir!

Aconselho o uso de tampões porque o ruído desaparece e usufruímos do balanço embalador do comboio.

Acordamos já com uma paisagem diferente, mais vegetação, paisagem mais acidentada e ao longe as montanhas.

Avistamos a Muralha da China!

Fotografo, fotografo mas nada! A neblina impede a nitidez e as fotos saem sem contraste. À medida que nos aproximamos de Pequim a paisagem torna-se ainda mais acidentada, um grande rio, túneis e mais túneis...e chegámos!

ESMAGADORA! (segundo um dos 14 volumes)


Em mongol aportuguesado, diz-se: Ulambatar; a casa dos nómadas, Guir; e obrigada é qualquer coisa com este som BAIARLA, com os erres ditos com a língua encostada aos dentes, ou sela, impossível de reproduzir.

Finalmente estava realizado todo o percurso do transmongol.

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