sábado, 29 de agosto de 2009

Pequim e a velocidade das mudanças



Voltar a Pequim (bando dos três) - Depoimento 2

As permanências e a velocidade das mudanças
O nosso interesse canalizava-se agora para fruirmos o prazer de revisitarmos zonas e ruas de Pequim que havíamos visto, em 2006, e que, nessa altura, estavam com indícios de grandes modificações.
O impacto de uma primeira vez exige um esforço muito grande. Todos os sentidos são poucos para captar um sítio desconhecido, sobretudo em situações de múltipla e alta densidade. Voltar novamente a um sítio permite vivê-lo de uma forma mais repousada e, por isso, sentido e saboreá-lo com menos urgência.
Ver aquilo que nos escapou, poder descobrir o que se alterou, conseguir identificar o que permaneceu..... o prazer do reencontro.
Se em 2006 eram visíveis as convulsões que, entre outros factores, os jogos olímpicos de 2008 impulsionavam, agora em 2009, um ano depois dessa hiper-festa, o que tinha acontecido?
Sem pressas, a ideia é mesmo vaguear e deixarmo-nos surpreender pelo que nos fosse acontecendo.
Praça Tiananmen. A circulação de peões é tão controlada e condicionada como se de um espaço fechado se tratasse. Milhares de pessoas, como nós havíamos percepcionado antes, maioritariamente chineses. O turismo interno tem um peso que se sente por todos os locais turísticos. Atravessar a praça Tiananmen desde a fachada da Cidade Proibida, que suporta o imutável retrato de Mao, até à entrada do Quanmen Dajie fez-nos, agora, rever este percurso de uma forma menos emocionado que em 2006, mas bastante mais atenta a pormenores que tinham ficado submersos pelo impacto e a dimensão do sítio. Os tapumes dos espaços devolutos e em acelerada demolição, os restos de lojas que em 2006 constituíam aquela zona, estavam agora praticamente reconstituídos como de um cenário se tratasse. Algumas lojas tradicionais voltaram a ocupar os seus espaços e outras dão agora lugar às marcas da globalização.
Nas traseiras as coisas continuam muito em obras e a velha urbe de Pequim ainda ali pode ser cheirada e vivida. Loja de sedas, de sapatarias.... e muito mais. Tudo em grande quantidade e com muita gente. O tempo, a disponibilidade e o cansaço não nos permitiu explorar mais.
Nas deslocações entre diversas zonas da cidade verificámos que os edifícios novos se impunham. Embora não conseguíssemos localizar ao certo as novas construções, porque a densidade é muita e o horizonte sempre muito reduzido, devido à névoa que não nos deixa fixar alguns elementos de referência. Mesmo assim, com tanta coisa nova e ainda com muita remodelação em curso, soube bem encontrar recantos que já nos eram familiares, como por exemplo, as bancas de petiscos na Wangfujing Dajie. Os manjares exóticos e estranhos, para os nossos hábitos alimentares, continuam a constituir um desafio à coragem de provar um escorpião, uma centopeia ou mesmo uma gorda larva que, com um óptimo aspecto, são impecavelmente exibidas nas bancas dos imensos quiosques.
Reencontrámos também os velhos mercados que, embora bastante remodelados, mantêm o ambiente do saboroso regateio dos preços e das estratégias de sedução associadas à sábia arte de vender. Tudo isto a par de grandes e novos espaços comerciais onde se podem encontrar todas as grandes “marcas”. A contrafacção não desiste e continua a ter o seu público. Quase ninguém resiste a ter um relógio ou carteira daquelas marcas que todos já ouvimos falar e que, apesar de não ser original, é comprada na origem.
Entretanto não conseguimos reencontrar alguns sítios que nos ficaram na memória em 2006. Será que já não existem ou simplesmente o acaso deles nos desviou?
Entretanto o Ninho de Pássaro (estádio olímpico) estava com fila para se comprar o bilhete para entrar e até havia bilhetes na "candonga" para os impacientes que não quisessem estar na fila.
É bom voltar e nunca ver tudo, alimentar o desejo de que ainda ficam muitas coisas capazes de nos surpreender.
Até sempre China!
Até breve Mongólia e Rússia!
Saudades da paisagem a fugir pela janela do comboio e do seu balançar.
Havemos de voltar, quanto mais não seja em sonhos, porque agora o real já os alimenta e as imagens e emoções já não são as emprestadas.

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