quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Missão cumprida


Cumprida a totalidade do percurso do transmongoliano, 7.622 Km, cada um dos sete viajantes tinha vivido por dentro, habitado as paisagens que, até aí, eram só imagens de bilhetes postais que povoavam o imaginário de cada um. Tinhamos estado dentro dos nossos mitos. Do tempo, dos espaços, da relativa clausura de dias e noites sentindo a paisagem mover-se e transformar-se através das janelas dos comboios, dos modos de ser tão diferentes que se vão metarmorfoseando à medida que tentamos perceber, o pouquinho possível, as pessoas e as suas circunstâncias separadas por três grandes espaços/nações/fronteiras - Rússia, Mongólia e agora a China.
Disso só é possível falar-se na primeira pessoa, porque serão naturalmente diferentes os resíduos que ficaram em cada um dos viajantes, assim cada um esteja disponível para os encontrar dentro de si e disposto a partilhá-lo no ciberespaço.....
A partir daqui, da chegada a Pequim, as publicações serão produzidas por dois grupos. Dos sete viajantes, três já tinham estado em Pequim em 2006, os outros quatro é a primeira vez.
Em comum temos apenas o impacto da chegada de comboio e o contacto com a estação, experiência bem diferente dos ambientes dos aeroportos. Depois de cinco dias na capital e, sobretudo, nos arredores de Ulaanbaatar, onde a imensidão da paisagem nos esmagava de natureza, a chegada ao território Chinês foi anunciando o império das luzes e da igualmente esmagadora densidade humana. O forte e indescritível cheiro da natureza da Mongólia que tinhamos activado sempre que pisavamos o seu chão era agora substituido pelos gases dos mecanismos e motores que povoam os aglomerados da China e, em especial a cidade de Pequim. As múltiplas picadas que possibilitaram os passeios que conseguimos fazer nos arredores de Ulaanbaatar foram substituidos por inumeras e intermináveis vias impecavelmente alcatroadas de 4 e 5 pistas por onde circulam milhares de automóveis. O horizonte a perder de vista da Mongólia foi substituido por um tecto branco, denso e difuso que nos impede de encontrar referências e coordenadas e nos faz sentir enclausurados num grande labirinto.

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