Combóio 240, continuação

A decoração do combóio é fabulosa. Ao longo do corredor de acesso às cabines um belo cortinado de pregas com pendentes entre as janelas e no chão uma passadeira tipo persa com uma protecção que uma vez por dia é aspirada por um rapazinho com dentes de ouro, mal educado e que cheira mal. Ao fundo do corredor o samovar com água sempre quente para o chá que é bebido num copo de vidro dentro de uma armação metálica com asa "muita linda". Além do rodopio constante rumo a um sítio chamada casa de banho, cujo buraco da sanita dá para a linha, há ainda a sala de "chuto". Aí, a fumadora, aproveita para conviver. Falou com três recrutas de 18 anos que iam de férias a casa no Casaquistão. Quando lhes foi perguntado se não tinham medo da guerra, responderam que neste momento a Rússia não estava envolvida em qualquer conflito. Mas, neste momento, chegou o aspirador manobrado pelo rapaz que resolveu guardar o pé de meia na boca. Mas a verdadeira jóia da coroa do combóio é o restaurante. Impossível de descrever pois quando entramos somos ofuscados por: rendas, dourados, folhos, tules e "pindericalhos". A empregada, também ela muito decorativa, na sua blusa de renda branca, mas que não sabe sorrir, deu-nos uma sopa a transbordar da tijela que tivémos de comer rapidamente por causa do balançar do combóio.

Ah! Mas os dias de maior calor potenciavam os odores variados que sentíamos ao longo do corredor.