Entre Moscovo e Irkutsk a paisagem movimenta-se através das janelas sujas do comboio 240 e nós, durante os dias e as noites do longo percurso, permanecemos fixos no compartimento de 4 lugares/camas. Muito tempo para ler. Uma das leituras que o acaso integrou aqui, entre a floresta /estepe/estações e o céu a caminho da capital da Sibéria tem por título "Tratado de Atealogia". Radical, irónico, provocador, agitadamente sereno..... Muitas interrogações, preplexidades..... apenas algumas:
Deus ainda respira. Deus morreu? (pág 28/28) (...)Deus fabricado pelos mortais à sua imagem, hipostasiada, não existe senão para tornar a vida quotidiana possível, apesar do trajecto de cada um em direcção ao nada. Enquanto os homens tverem de morrer, uma parte deles não suportará essa ideia e inventará subterfúgios. Não se assassina um subterfúgio, não podemos matá-lo. É ele que nos mata: Deus mata tudo o que lhe resiste. Num primeiro momento a Razão, a Inteligência, o Espírito Crítico. O resto sucede-se por reacção em cadeia.
Na página 146 As aves do Paraíso. Este mundo fora do mundo produz duas criaturas extraordináras: o Anjo e o Paraíso. O primeiro é o protótipo do anti-homem; o segundo, do antimundo.
Fico por aqui. Espero que alguém fique com apetite de ler o livro para podermos tocar pontos de vista.
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